quinta-feira, abril 17, 2008

Canal Memória

Nos anos oitenta assisti, serenamente, à morte de um dos maiores sportinguistas que eu conheci.
Lembro-me de assistir a provocações intermináveis entre ele e um benfiquista, também falecido na década de 80.
O fanatismo de um e de outro era tão agressivo que, sem nunca se terem agredido fisicamente, experimentaram longos períodos de arrelia e acabrunhamento.
Eram duas velhas raposas matreiras e arranjavam sempre uma desculpa inefável para regressarem à sua actividade preferida: provocação mútua.
Como as querelas tinham sempre como pano de fundo o resultado desportivo do benfica ou do sporting, as segundas-feiras e/ou quintas-feiras eram sempre bastante animadas.
Anos a fio os ouvi: resmungando, vociferando, agredindo-se verbalmente e ameaçando nunca mais falar com um pérfido indivíduo, um fulano que não sabe ver o óbvio, a cegueira, compra ou mal das vísceras, de um certo árbitro.
Jamais ousei rir perante tais diálogos, umas vezes mais criativos que outros, mas sorri demasiadas vezes.
Hoje, se fossem vivos, estaria um extremamente contente e outro a espumar de raiva.
Dedico-lhes esta mensagem, não sem uma ligeira dúvida, se por algum motivo existe vida para além da morte, talvez eles estejam, neste preciso momento, a rirem-se à gargalhada, mas de mim.


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