variações acerca do comunismo
Deve ter sido interessante a vida num regime comunista.
No Chinês, principalmente.
O regime comunista chinês levou Marx tão a sério, ao ponto de a "igualdade" chegar ao traje e, curiosidade das curiosidades, ao boné, resta-me saber se a "igualdade" também chegou aos sapatos.
Imagino uma conversa no hall da sede do partido:
- Viva camarada! Vamos lá suar pela causa comum. E, hoje, quantos camaradas prevê socializar?
- Camarada, hoje, 'tou um nadinha deprimida.
- Deprimida? Uma camarada nunca se deprime, aliás um caramada que se deprime precisa de ler o "Corão" mais umas quantas vezes. A camarada quer que lhe façamos o favor de a internar?
- Sim, camarada, estou com uma depressão estilista.
- Camarada, desagrada-lhe algo na sua farda popular?
- Sim, camarada, a minha é mais popular que a sua, gostaria de algo mais estilizado.
Depois de se ter resolvido a questão, curou-se a camarada com a depressão estilista. A camarada superior promoveu-a a camarada um nadinha superior, mas uma nadinha inferior, a si.
Contudo, para além da genialidade da farpela igualitária, os camaradas chineses tem um ligeiro problema, gostam de se matar.
E, apesar de, aparentemente, já não andarem vestidos da mesma forma - a camarada com a depressão estilista já manda no partido, mas sem ninguém saber - continuam a ter o péssimo hábito de ser honrados.
É certo que o advento do capitalismo recauchutou algumas ideias comunistas.
Agora o camarada do partido não se deixa corromper pelo capitalismo, trata sim de tornar a nação o quinquagésimo Império. O camarada Mao deve pular de contente. Nunca, como agora, se viu tanto Chinês, nunca, como agora, se ouviu tanto potencializar a China.
O capitalista chegou à China e tratou de se adaptar.
O comunismo chegou perto do capitalista e também se adaptou.
Se McCarthy tivesse tido oportunidade de observar o casamento pacífico entre dois temperamentos, aparentemente incompatíveis, também se teria convencido e adaptado.
Tinham-se poupado comissões, ralações e carreiras de cineastas.
O filme peca, no entanto, por um argumento demasiado previsível.
O forasteiro chega à cidade, alguns mauzões irão fazer-lhe a vida negra, mas, depois de ultrapassar várias tempestades, conseguirá convencer a cidade. Afinal apenas pretende lucrar com a sua "bondade" e com a dos outros. A "bondade" dos outros é tanta que se digna a trabalhar para a sua "bondade" por uns míseros tostões e, se preciso for, até a "bondade" dos filhos se instala convencida da "bondade" do forasteiro. Durante anos a "bondade" do senhor criará riqueza e uma vida melhor para as "bondades" da região. Sugando todas as "bondades" possíveis e imaginárias, até as ambientais. E quando o país ao lado, depois de observar e invejar a prosperidade da "bondade" alheia - e de ter gostado de "snifar" os dejectos da "bondade" limítrofe - lhe acenar com os benefícios das suas "bondades", também verdadeiramente atraentes, o forasteiro não hesitará, ele veio ao mundo para satisfazer novas "bondades". Num ápice, torna-se, para uns, um usurpador de "bondades" alheias e, para outros, um benfeitor de "bondades" potenciais. No fim serão uns felizes e outros infelizes. Mas o herói continuará perseverante e perseguirá sempre o seu objectivo: satisfazer "bondades".
Vejamos bem a questão, o mundo precisa de capitalistas. E qualquer um de nós não lhe menosprezaria a profissão. A "bondade" precisa do capitalista para comprar os seus produtos, e, em troca, terá que lhe dar alguma coisa, a sua "bondade".
Os músicos rock, pop, ..., vendem o seu talento à indústria e, em troca, recebem alguns milhões, o que não é nada malfeitor.
Se entretanto se resolvem matar, experimentar tudo e encher as suas vidas demasiado preenchidas de alguma coisa, é porque não aprenderam nada de jeito e nunca pensaram suficientemente. Andaram na escola, mas não lhes valeu de nada. Apesar de, a maior parte deles, também não precisar da escola para nada, afinal nasceram com um talento e tratam de viver a sua vida à custa de.
Quem não tem talento nenhum, possivelmente andará na escola para aprender, e percebe que alguém que pretende "sugar" o tutano de um capitalista, terá de se lhe impor. E "produzir" uma relação puramente estratégica e economicista.
Trata de, aparentemente, lhe fazer a vontade, mas governando a sua vidinha. Trata de, aparentemente, ser uma estrela rock ligeiramente deprimida, ligeiramente fatal, e ligeiramente bizarra, mas com a balança sempre muito equilibrada. E, lei das leis, trata de juntar os trapinhos com alguém decente, e, de preferência, que não pertença ao meio e nem tenha muitas dúvidas existenciais. Uma espécie de lucidez brutal sobre a "bondade" alheia.
Para uma pessoa comum, como eu, sem talento que valha milhões, o desperdício de uma vida em troca de uma substância de faz de conta, dá um raio de uma imensa dor de corno.
Ele havia tanta coisa, pessoalmente gratificante e saudável, a fazer com tais milhões.
No Chinês, principalmente.
O regime comunista chinês levou Marx tão a sério, ao ponto de a "igualdade" chegar ao traje e, curiosidade das curiosidades, ao boné, resta-me saber se a "igualdade" também chegou aos sapatos.
Imagino uma conversa no hall da sede do partido:
- Viva camarada! Vamos lá suar pela causa comum. E, hoje, quantos camaradas prevê socializar?
- Camarada, hoje, 'tou um nadinha deprimida.
- Deprimida? Uma camarada nunca se deprime, aliás um caramada que se deprime precisa de ler o "Corão" mais umas quantas vezes. A camarada quer que lhe façamos o favor de a internar?
- Sim, camarada, estou com uma depressão estilista.
- Camarada, desagrada-lhe algo na sua farda popular?
- Sim, camarada, a minha é mais popular que a sua, gostaria de algo mais estilizado.
Depois de se ter resolvido a questão, curou-se a camarada com a depressão estilista. A camarada superior promoveu-a a camarada um nadinha superior, mas uma nadinha inferior, a si.
Contudo, para além da genialidade da farpela igualitária, os camaradas chineses tem um ligeiro problema, gostam de se matar.
E, apesar de, aparentemente, já não andarem vestidos da mesma forma - a camarada com a depressão estilista já manda no partido, mas sem ninguém saber - continuam a ter o péssimo hábito de ser honrados.
É certo que o advento do capitalismo recauchutou algumas ideias comunistas.
Agora o camarada do partido não se deixa corromper pelo capitalismo, trata sim de tornar a nação o quinquagésimo Império. O camarada Mao deve pular de contente. Nunca, como agora, se viu tanto Chinês, nunca, como agora, se ouviu tanto potencializar a China.
O capitalista chegou à China e tratou de se adaptar.
O comunismo chegou perto do capitalista e também se adaptou.
Se McCarthy tivesse tido oportunidade de observar o casamento pacífico entre dois temperamentos, aparentemente incompatíveis, também se teria convencido e adaptado.
Tinham-se poupado comissões, ralações e carreiras de cineastas.
O filme peca, no entanto, por um argumento demasiado previsível.
O forasteiro chega à cidade, alguns mauzões irão fazer-lhe a vida negra, mas, depois de ultrapassar várias tempestades, conseguirá convencer a cidade. Afinal apenas pretende lucrar com a sua "bondade" e com a dos outros. A "bondade" dos outros é tanta que se digna a trabalhar para a sua "bondade" por uns míseros tostões e, se preciso for, até a "bondade" dos filhos se instala convencida da "bondade" do forasteiro. Durante anos a "bondade" do senhor criará riqueza e uma vida melhor para as "bondades" da região. Sugando todas as "bondades" possíveis e imaginárias, até as ambientais. E quando o país ao lado, depois de observar e invejar a prosperidade da "bondade" alheia - e de ter gostado de "snifar" os dejectos da "bondade" limítrofe - lhe acenar com os benefícios das suas "bondades", também verdadeiramente atraentes, o forasteiro não hesitará, ele veio ao mundo para satisfazer novas "bondades". Num ápice, torna-se, para uns, um usurpador de "bondades" alheias e, para outros, um benfeitor de "bondades" potenciais. No fim serão uns felizes e outros infelizes. Mas o herói continuará perseverante e perseguirá sempre o seu objectivo: satisfazer "bondades".
Vejamos bem a questão, o mundo precisa de capitalistas. E qualquer um de nós não lhe menosprezaria a profissão. A "bondade" precisa do capitalista para comprar os seus produtos, e, em troca, terá que lhe dar alguma coisa, a sua "bondade".
Os músicos rock, pop, ..., vendem o seu talento à indústria e, em troca, recebem alguns milhões, o que não é nada malfeitor.
Se entretanto se resolvem matar, experimentar tudo e encher as suas vidas demasiado preenchidas de alguma coisa, é porque não aprenderam nada de jeito e nunca pensaram suficientemente. Andaram na escola, mas não lhes valeu de nada. Apesar de, a maior parte deles, também não precisar da escola para nada, afinal nasceram com um talento e tratam de viver a sua vida à custa de.
Quem não tem talento nenhum, possivelmente andará na escola para aprender, e percebe que alguém que pretende "sugar" o tutano de um capitalista, terá de se lhe impor. E "produzir" uma relação puramente estratégica e economicista.
Trata de, aparentemente, lhe fazer a vontade, mas governando a sua vidinha. Trata de, aparentemente, ser uma estrela rock ligeiramente deprimida, ligeiramente fatal, e ligeiramente bizarra, mas com a balança sempre muito equilibrada. E, lei das leis, trata de juntar os trapinhos com alguém decente, e, de preferência, que não pertença ao meio e nem tenha muitas dúvidas existenciais. Uma espécie de lucidez brutal sobre a "bondade" alheia.
Para uma pessoa comum, como eu, sem talento que valha milhões, o desperdício de uma vida em troca de uma substância de faz de conta, dá um raio de uma imensa dor de corno.
Ele havia tanta coisa, pessoalmente gratificante e saudável, a fazer com tais milhões.
Etiquetas: Capitalismo, Comunismo, Elisabete no mundo das fadas, Vingança
1 Comments:
Macau terá sido a (maior) porta de entrada do capitalismo na China. A província piloto dessa aventura, revelou-se um autêntico sucesso e, criou uma nova tendência económica - socialismo capitalizado - que naturalmente enche os cofres ao governo chinês e propociona uma zona capaz de rivalizar com Las vegas.
Também gostei da versão brasileira do mandarim.
Um bom dia.
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