segunda-feira, novembro 02, 2009

Entre o oculto e o acessível

Há profissionais das mais variadas áreas de actividade, destacando-se alguns por variadíssimos motivos. Como? Ora através dos meios de comunicação social (jornais, revistas, televisão, etc.), ora através de outras causas, como, por exemplo, o enriquecimento singular.

Se fossemos olhar para a sociedade em geral e tendo em conta dezenas de personalidades públicas (políticos, empresários, juristas, médicos, etc.) como se explica que pessoas sem fortuna pessoal e no prazo de alguns anos tenham conseguido construir uma fortuna desmesurada?

Bem, ponhamos a coisa em termos de ganhar a sorte grande. Até hoje, e que se saiba, ninguém a ganhou com desmérito. Porquê? Bem, a roleta, o computador, ou outro que tal, é sabiamente administrado e à prova da subversão humana, o que não invalida um certo glamour (as virtualidades - ou não - de tal sistema).

No mundo dos negócios, da política e das mais diversas actividades profissionais enquanto uns, afortunadamente, conseguem acertar na sorte grande, outros nem por isso, o que é uma grande maçada. Acertar na sorte grande em qualquer actividade profissional (independentemente do mérito ou desmérito) equivale a dizer ou que se acede a uma informação privilegiada ou que se está no momento certo à hora certa (isto sem ponta de ironia).

Será que a maior parte das pessoas está consciente de que se tem possibilidade de inverter uma determinada situação a seu favor está no campo elucidativo daquilo a que se chama corrupção? Claro, obviamente, sim! E se colocarmos a coisa nestes termos: imagina que tens um amigo que trabalha na banca e que te telefona e diz: é pá, compra acções de Y e não digas nada a ninguém. Compravas? Não compravas?

Actualmente, os políticos, empresários, médicos, advogados, etc. são uma espécie de purgação do mal-estar geral, sendo eles os principais transgressores, corruptos e malfeitores e todos os outros o grande conjunto das suas vítimas.

Será que tais vítimas mudariam, se lhes fosse possível, de lugar? Importar-se-iam de ocupar o cargo dos novos transgressores, corruptos e malfeitores revitalizando assim as diversas classes profissionais e dando origem a novos políticos, empresários, médicos, advogados, etc. e à criação de mitologias cujo discurso moralista esconde autoritarismo social e formas perversas de sociedade, enfim para a tornar mais íntegra?

Os diversos meios de comunicação, individuais, corporativos, privados e sociais estão repletos de cónegos de circunstância, que fazem de conta que esquecem o básico: o interesse individual é, bastas vezes, incompatível com o interesse colectivo.

Assim, enquanto uns acertam na sorte grande e vão viver à grande e à francesa, outros constroem a sua sorte grande através de conspirações e sobrevivem com contraconspirações político, económicas e financeiras, outros enriquecem com uma pitada de intrigas, delitos e pequenas subversões político, económicas e financeiras, algures o sistema rejuvenesce transformando uns em bodes expiatórios e tendo em vista revitalizar a política, a economia e a finança, na melhor das hipóteses para ocuparem os lugares entretanto vagos.

Enquanto isso há ingénuos, cépticos, optimistas e pessimistas profissionais, alguns deles ocupam lugares chave na comunicação social e são pessoas intelectualmente sérias e ideologicamente imparciais. A jusante ou a montante há os que acreditam em determinadas verdades, os que manipulam e são manipulados, os trucidados, os que têm desequilíbrios orçamentais e outros no desemprego.

Entretanto alguns (políticos, analistas, académicos, opinião pública em geral) constroem mitologias próprias, argumentários hipotéticos e modelos de sociedade irrepreensíveis, entre uma palavra luminosa daqui, uma pitada de génio dali e uns quantos truques mágicos dacoli.

Concluindo, vivemos num mundo oscilante, entre a abstracção e a realidade e onde alguns percebem que linhas divisórias não devem transpor e outros actuam, detêm as rédeas do poder e ditam as regras do jogo.

As regras são justas (ou injustas)? Depende da postura ética de quem detém o poder e de quem pretende beneficiar (ou prejudicar).

Nenhuma discussão acerca do poder (seja ele qual for) é intelectualmente séria se não for colocada nestes termos: de que forma se articulam, naquele indivíduo, os interesses (privado e o público)? De que forma os seus interesses individuais se sobrepõem aos colectivos e vice-versa?

Etiquetas:

Partilhar