terça-feira, outubro 14, 2008

Modelos e Classes Sociais

O capitalismo acabará um dia, mas ainda não é desta.
O capitalismo é um sistema resultante da capitulação de outro sistema.
Um dia destes o capitalismo será substituído por outro sistema mais conveniente às classes sociais predominantes.
A história da humanidade é uma luta de classes constante, como muito bem observou Marx.
A sua leitura da história da humanidade remetia para a consciencialização do operariado enquanto classe como forma para atingir o poder(*).
O conflito é a cereja em cima do bolo para qualquer classe social cujo objectivo seja o poder.

O modelo de Marx não foi o adoptado pelos diversos estados comunistas (embora a ala direita nos pretenda vender essa ementa). Nos estados comunistas adoptou-se um modelo particular, como muito bem caracterizou Orwell numa das suas paródias mais famosas: O Triunfo dos Porcos. Tal modelo consistiu no advento de uma nova classe a dos iluminados, os escolhidos do regime e do proletariado como guias e orientadores da massa anónima. A adopção de um colectivismo aparentemente igualitário, culto da personalidade, controle férreo da economia, sociedade e cultura foi com sucesso propagandeada como ditadura das massas, bem como a imposição do isolamento, disciplina férrea e a ocupação de todos os espaços pelo poder político. O temor, a apologia do medo foram os corolários do regime comunista o protótipo de um estado totalitário(**).
Os países comunistas ocuparam de tal forma o espaço humano, que se transformaram em estados concentracionários. Um modelo de Estado-Providência levado às últimas consequências.
Até aos anos setenta também o Ocidente adoptou tal modelo de Estado, com algumas nuances. No Ocidente apesar do Estado-Providência ter funcionado como uma oportunidade para repor alguma justiça social, a exigência dos trabalhadores e a distribuição de riqueza começou a incomodar algumas classes sociais emergentes.
Thatcher na Inglaterra, Reagan nos EUA, anos 70, iniciaram então uma nova era.
A predominância do político e a regulação do económico foi substituída pelo seu inverso: a capitulação do político ao económico. Quem efectivamente exerceu o poder durante várias décadas, cerca de 30 anos, foi o poder económico. Em Portugal esse fenómeno ficará para sempre aliado, pelo menos na minha memória, a um acontecimento muito especial: a imposição de uma determinada hora aos deputados para a abertura da Assembleia da República. Belmiro de Azevedo foi quem simbolizou em Portugal a capitulação do poder político ao económico.
Durante estas décadas assistiu-se à usurpação de todo o espaço social, político, cultural pelo poder económico.
Os media transformaram-se em veículos publicitários e instigadores de uma era de consumo sem precedentes.
A nomenclatura e os procedimentos de gestão invadiram todo o espaço da actividade humana verificando-se, igualmente, a colonização de conceitos de gestão por toda a esfera das políticas públicas: avaliação de desempenho, eficácia, eficiência, produtividade, motivação, sucesso, ...
Os excessos do poder político através da ocupação total de todo o espectro humano foram assumidos e postos em prática pelo poder económico.
Assistimos agora à sua decadência, como assistimos outrora à decadência do outro modelo.

Os novos tempos sugerem-me uma questão: após a preponderância do político seguida do económico qual é o actor seguinte?

O episódio continua dentro de momentos...

(*) - Os digníssimos representantes do "peace and love" rapidamente foram "digeridos" pelo sistema e transformados em ícones altamente lucrativos.
(**) - Cunhal pretendia substituir Salazar através de um sistema político semelhante, apenas mudavam os actores e a explicação teórica de algumas práticas.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A crise económica e financeira seguinte ao crash de Wall Street de 1929, só se resolveu em 1936 através da inflação, isto é, a injecção massiva de moeda no sistema financeiro.

Até aí, as crises eram passageiras, porque localizadas. Mas em 1929, já o sistema económico e financeiro estava interligado a nível mundial. Por isso, também a Europa sofreu bastante. Houve pessoas que ficaram sem bens devido às falências em cadeia. Houve grande número de suicídios devido a isso.

Imagine-se se a AIG tivesse falido, as pessoas que ficavam sem as suas reformas. Era um desastre. Na verdade, a falência da AIG não podia ocorrer de maneira nenhuma.
O Lehman Brothers(LB) faliu porque o governo americano o deixou falir, mas se os problemas com o LB surgissem depois do episódio AIG, certamente não o tinham deixado falir.

A grande diferença entre a actual crise e a de 1929, é que a actual já está a ser resolvida, pela injecção massiva de moeda que os governos estão a fazer em todo o sistema financeiro. Na de 1929, foi preciso esperar por 1936 para se fazer o mesmo.

O teorizador destas intervenções foi John Maynard Keynes na sua Teoria Geral.
O modelo clássico do suposto equilíbrio natural e ajustado entre oferta e procura tinha baqueado estrondosamente.

Na década de 1980 do sec. passado, a escola de Chicago, onde pontificaram Friedman e Hayek, posta em prática por Ronald Reagan, atacou o keynesianismo, apoiando-se bastante na implosão verificada na ex-URSS e na indicação da acção maléfica do Estado para a economia.

Esta crise veio provar a justeza da teoria keynesiana e do papel insubstituível do Estado como regulador muito atento da actividade económica.

Por outro lado, a estatização total da economia, como pretendiam os comunistas, provou estar errada.

Não quer dizer que não possa haver mais novidades, e novas transformações não possam surgir. O que é importante, e que a ex-URSS não percebeu, é que as liberdades e, sobretudo a liberdade de imprensa, devem ser sempre respeitadas, para que as transformações se processam sem sobressaltos e respeitando a vontade da maioria.

quarta-feira, outubro 15, 2008 2:27:00 da manhã  

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