quinta-feira, março 20, 2008

Coisas que nunca mudam

Andam nas Amêndoas. O termo foi-me várias vezes apresentado no final dos anos 70, inícios de 80. Era uma expressão muito utilizada por quem andava na estrada para definir a sagrada caça à multa na época de Páscoa. Anos se passaram, leis foram alteradas – agora já ninguém leva caixas de coelhos, galinhas ou vinho ao comandante da polícia local (espero eu), são cada vez menos os automobilistas que se lembram de tentar subornar a autoridade. Agora a coisa está, de facto, diferente: há uns dias passava eu numa estrada perto do meu local de residência, uma via com duas faixas de rodagem em cada sentido mas que, por se encontrar dentro de uma localidade, tem a óbvia velocidade máxima de circulação marcada nos 50 quilómetros/hora.
Há uns bons cinco anos, a Brigada de Trânsito costumava, ciclicamente, colocar ali um carro descaracterizado, estacionado em cima de um passeio ou em cima de uma zebra ali existente, com o radar da ordem e mais seis ou sete agentes a mandarem encostar os incautos prevaricadores uns bons 400 metros à frente.
É claro que um carro estacionado de forma abusiva em cima de um passeio para pedestres ou em cima de uma zebra chamava demasiada atenção e a caça aprendeu a lição rapidamente.
A evolução da tecnologia chegou, de há algum tempo a esta parte, o carro descaracterizado desapareceu, no seu lugar está aquilo a que chamo o radar de bolso. Todos concordaremos, acredito, que as Leis do Código de Estrada são para cumprir, alguns de nós também concordaremos que a principal missão das polícias não é reprimir mas sim dissuadir e é aqui que tudo isto me leva de volta ao velho Andam nas Amêndoas. O radar de bolso que eu já vi, por várias vezes, está sempre estrategicamente escondido atrás do pilar de um viaduto, totalmente invisível a quem se dirige para aquela armadilha. Depois de percorridos os tais 400 metros, lá estão os tais seis ou sete polícias, diligentemente, mandando encostar as moscas do dia. Obviamente que as regras são para se cumprir, obviamente que isto se passa numa estrada que, embora tendo duas vias em cada sentido, tem um limite estabelecido, obviamente que, se os agentes da autoridade escondem tão afincadamente o radar é porque não querem apenas dissuadir, querem punir, querem reprimir, querem multar.
Estão a usar o que têm como Lei mas lá que ficam mal na minha fotografia lá isso ficam.
P.S. - Se alguém me garantir que este método nos fará baixar o número de mortes nas estradas nesta época de Páscoa ainda dou um desconto mas, felizmente, na via em questão, nunca morreu ninguém desde que ela se encontra aberta.

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3 Comments:

Blogger Sinapse said...

cof, cof ... eer ... tu não quererás re-frasear isso? "mas infelizmente na via em questão nunca morreu ninguém desde que ela se encontra aberta."

quinta-feira, março 20, 2008 9:01:00 da tarde  
Blogger Hélder Franco said...

Obviamente que quero e já o fiz. As minhas desculpas pelo lapso. :|

quinta-feira, março 20, 2008 9:40:00 da tarde  
Blogger cristina said...

A ideia de ocultar o controlo não me parece assim tão errada. Teoricamente é um modo de "obrigar" o condutor estar sempre alerta - é uma espécie de teste surpresa! É só uma maneira de lembrar que não se estuda só para os testes e que o código não é para cumprir só naqueles bem determiminados 500m.

Também percebo a ideia da sinalização do controlo. É um modo diferente de, pelo menos, naqueles 500m garantir que o código é cumprido.

O primeiro parece mais efectivo, mas o segundo mais eficaz... E, na impossibilidade de garantir a eficácia em toda a estrada - um polícia em cada esquina é capaz de não ser viável - talvez um pouco de efectividade não seja assim tão negativo.

quarta-feira, março 26, 2008 3:36:00 da manhã  

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