sexta-feira, janeiro 04, 2008

Deixem-me lá dar o meu bitaite

acerca disto:
Que o Financial Times é um órgão de referência ninguém tem dúvidas. Mas que também tem de escrever muita «palha», artigos encomendados por Governos e empresas para encher páginas, também ninguém duvida disso, se falarmos obviamente daqueles que o lêem.
Acontece que estava eu a ler a tal notícia e a tentar perceber: qual a diferença entre um bom Ministro das Finanças e um outro com boas aptidões políticas? Ainda não consegui entender tal desiderato, porque um Ministro das Finanças é, antes e acima de tudo, um político.
Mas o que me causou maior estranheza foi elegerem o Ministro das Finanças espanhol como o 3.º melhor da Zona Euro. Durante este ano, infelizmente, porque terá repercussões em Portugal, terão oportunidade de verificar esta minha estranheza, mas deixo já aqui como aperitivo as seguintes dicas: a construção, o motor do «milagre» económico espanhol - não é só em Portugal -, baixou, no 3.º trimestre, 40% em relação a igual período do ano passado, as acções da segunda maior promotora imobiliária deram um tombo de 50% na última semana e estiveram suspensas para não caírem mais, o desemprego e a inflação estão a subir. Este ministro espanhol sabia desta bolha especulativa imobiliária e pouco fez para a travar: limitou-se a tapar os ouvidos para não ouvir o estrondo do embate. É certo que a economia espanhola ainda está a crescer e em superavit, mas houve medidas que não foram tomadas para amenizar o impacto (ex: subir o IVA) e que serão mais dolorosas de serem aplicadas quando a economia refrear. (não vos faz lembrar Guterres & Pina Moura?...)
Do outro lado, temos o Ministro português que lá com as suas vicissitudes, sempre pôs a economia a crescer (pouco, é certo, mas não ainda há dois ou três anos estávamos em recessão, é sempre bom lembrar o ponto de partida quando se quer analisar as coisas, e para este ano espera-se, dados do Eurostat, que cresçamos mais que a média da UE) e colocou o déficit abaixo dos três por cento (com receitas extraordinárias e desorçamentação, claro, mas todos os governos antes dele e todos por essa Europa fora recorrem a truques contabilísticos para europeu ver - Espanha incluída, logicamente.). Ou seja, teve sucesso em duas das três grandes medidas metas que lhe pediram: crescimento e déficit. Faltou a baixa do desemprego, mas esse virá como consequência do crescimento.
Basicamente, aquilo que pretendo dizer é que nem o ministro espanhol é o 3.º melhor da Europa, mal de nós se essa for a medida de sucesso de um governante, nem Teixeira dos Santos é o 2.º pior - há por aí muito país europeu com personagens que metem medo só de se pensar nas medidas que tomam. Se bem que, como já acima disse, eu não percebi muito bem o critério de avaliação do Financial Times. Talvez seja por isso que discordo da classificação. Ou talvez ache que aquilo é apenas palha para encher o jornal por altura do Natal, quando economicamente pouco se passa de interessante para noticiar.

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5 Comments:

Blogger Unknown said...

Realmente! Pedir ao Ministro da Finanças Espanhol para subir o IVA ...

Não há direito!

sábado, janeiro 05, 2008 2:13:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com o teor do artigo, questionando-me qual terá sido o critério de avaliação gerador de semelhante qualificação.
Pensando um pouco...talvez tenha a ver um pouco com a dimensão e a influência dos dois países.
Há certas "diplomacias" que trabalham muito a imagem...e a Espanha nesse campo não deixa os créditos por mãos alheias.

Cump,

sábado, janeiro 05, 2008 10:15:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Acho que o nosso Ministro deve estar orgulhoso. Ser classificado como o segundo pior pelo Finantial Times é um elogio...

domingo, janeiro 06, 2008 2:42:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A propósito do seu "bitaite" merece a visita veja só:

http://bellaciao.org/fr/article.php3?id_article=58877

domingo, janeiro 06, 2008 4:09:00 da tarde  
Blogger Raimundo said...

É pá... ó Carlos. O pessoal já anda lixado por receber mal e não ser aumentado há cinco anos enquanto vê a inflacção a subir a cada ano novo. Porra... deixe-nos esta mísera consolação de podermos achincalhar aqueles cujos cargos são suportados pelos nossos crescentes impostoss!

domingo, janeiro 06, 2008 11:41:00 da tarde  

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