Porto Ferreira
Enquanto escrevo estas palavras, os chefes de estado europeus e africanos em Lisboa para participar na Cimeira UE-África são recebidos num jantar oficial na Ajuda, a convite de Cavaco Silva. E durante a tarde, enquanto procurava as palavras, não consegui deixar de pensar na grande hipocrisia que ronda esta cimeira. Lisboa recebeu ditadores ilustres, muito bem descritos aqui. Mugabe, contava-se pela tarde, foi relegado para um lugar dos fundos, o castigo pelo seu mau comportamento, dizia-se que Sócrates não o cumprimentaria, dizia-se que o atropelo aos direitos humanos no Zimbabué iria estar na ordem do dia, dizia-se muita coisa, portanto. Num zapping fugaz assisti a Cavaco Silva a cumprimentar educadamente alguém que acabara de chegar, Sócrates a seu lado. Naturalmente não consegui deixar de pensar se também estes todos, um rol infindável de ditadores, verdadeiros maratonistas no desrespeito pelos direitos humanos mais elementares, teriam pedido ao Presidente da República para ser recebidos. E por uma questão de sanidade mental finjo que sim, finjo que acredito, apenas para ver se consigo digerir por que raio Dalai Lama foi ignorado pela razão citada e estes são alegre, cordial e protocolarmente recebidos, com um Porto Ferreira de vinte anos a selar o convívio.
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12 Comments:
Ditadores há muitos... até aqui pela Europa...
Depois não vejo lá muito bem a fita que se faz com o Mugabe que está muito longe de ser dos piores.
Isto lembra-me dos tempos em que Europa inteira acariciava o Suharto da Indonésia e só nós, praticamente, é que protestavamos. E ninguém nos ligava.
Quanto ao Dalai Lama não nos podemos esquecer que é herdeiro de um regime ditatorial dos piores. O Tibete governado pelos Dalai Lamas era qualquer coisa de indiscritível.
Independentemente da opinião que se tenha sobre o regime chinês eu, de nenhuma form, gostaria que a minha Mãe me visse a confratenizar com o Dalai Lama...
O facto de Mugabe não ser dos piores não implica que não seja muito mau. Por outro lado, se Dalai Lama não foi recebido oficialmente pelo PR e pelo PM não entendo como se dão honras de estado a alguns destes facínoras que deixam o povo literalmente morrer de fome, além dos atropelos aos direitos humanos. O Papa também não é herdeiro de uma história coroada pelos feitos mais valorosos, no entanto, é representante da cadeira de Pedro e recebido como tal.
"O facto de Mugabe não ser dos piores não implica que não seja muito mau"
Não contesto. Mas porque é que Mugabe é o bombo da festa e outros (como o Khadaffi) até passam desapercebidos?
O Dalai Lama, ao contrário do Papa, não é chefe de um estado com o qual Portugal tem relações diplomáticas.
No que escrevi citei Mugabe, não disse que era o pior. Aliás ser muito mau já fala por si, não interessa averiguar qual o pior. O Expresso nesta semana traça o perfil dos países africanos em que são mencionados os piores em corrupção, por exemplo e os melhores em literacia, outro exemplo.
Sim, o Dalai Lama não é chefe de Estado, mas o Papa quando se desloca não é tanto na qualidade de chefe de estado mas muito mais na de líder espiritual, parece-me. Quem é devoto, não vai para ver ou ouvir falar o Chefe de Estado do Vaticano. Falo em termos de representatividade e/ou representação, claro, porque em termos de protocolo naturalmente há diferenças.
O post é oportuno mas infelizmente atém-se ao que é mais óbvio. A mim perturba-me o seguinte:
que o sr. Brown se tenha enchido de zelos quando se soube da vinda do tio Mugabe,achei muito bem, e um tanto ingenuamente, um tanto na linha idealista que manifestas, até o apoiei com um postinho no meu anónimo blog. Porém, meia dúzia de semanas depois, ei-lo de bracinho dado ao simpático soberano de um país onde uma mulher que é violada é condenada a x chibatadas, e se protesta e traz os assuntos para os media, leva a dobrar. Que sentido faz então um protesto contra os nossos governantes?
Peço desculpa mas... zero.
Outro caso. Há uns tempos, um blog qualquer iniciou uma campanha na blogosfera contra o PC, a protestar contra a presença na Festa do Avante, das FARC, os sinistros raptores da Ingrid Betancourt e outros.
Ainda pensei em aderir... Infelizmente apercebi-me com repulsa que quem apoiava alegremente foi gente do tipo insurgentes, blasfémia e tudo o que é a seita blogosférica que apoia de unhas e dentes a carnificina iraquiana e defende como legítimas as criativas definições de tortura segundo a administração americana. Não é que pelos direitos humanos uma pessoa deva ter escrúpulos em associar-se com quem quer que seja, o problema é que campanhas pelos direitos humanos quando conduzidas por determinadas pessoas ou organizações (ou blogs) deixam de fazer qualquer sentido, são, elas próprias, veículo da mais básica propaganda.
Resultado: se as coisas se mantêm dentro do espírito da "geopolítica"( "a política não tem de ser moral" como gostam de repetir alguns alarves opinion makers) e - apesar das cortinas de fumo acerca dos media dominados pelos esquerdistas - é indubitável que essa visão triunfou definitivamente quer como teoria política quer como doutrina descarregada de forma subserviente pelos media e interiorizada pelo "cidadão comum" mais ou menos desinformado que faz a "opinião pública", são fúteis os nossos sobressaltos. Não passam de uma espécie de crítica de costumes.
O Sócrates, o Cavaco, apertaram a mão ao Mugabe e ao oleoso Kadhafi?
Mete nojo, mas é um "assunto de Estado" e a malta que engula o sapo.
Com alguma relativização a foto da criança faminta poderia ter sido tirada em qualquer arredor Lisboeta, (ínfimo intervalo de tempo...)Quando os mostrengos rebentos do país de Salazar, se enfeitam com jeitinhos "de direitos humanos" é menos de "geração rasca" que se trata, é dum abismo ubuesco e crasso donde surtem lágrimas que se fossem de crocodilo seriam puras.
Cada um fala das suas lágrimas e lamento se a fotografia podia ser tirada em qualquer lugar de Lisboa, naturalmente seria de lamentar tanto como se fosse no Porto ou em qualquer outro lugar de Portugal ou em qualquer outro lugar do mundo. Por outro lado, o link refere-se aos ditadores que o Pedro Correia descreveu ao longo de dias no Corta-fitas e não apenas, muito pouco de facto, à primeira fotografia.
Lamento o tom tão agressivo do comentário, bastaria dizer que lhe desagradou o post, como será seu direito.
"Esta gente besuntada de bons "sentimentos emprestados" faz vergonha ao português que sou."
Com o devido respeito "phone-ix" para si... se tem vergonha de ser português mude-se, ou melhor, não se mude, e vá aprendendo, vá olhando, vá vendo... e já agora não se "besunte" porque se apanha alguém menos inteligente até julga que é o espírito do "bisonte" do velho Oeste.
Já agora tenha atenção e não se esqueça que se já passou da fase "Geração Rasca" deve ir ao médico para o habitual "check-up" de ano a ano, porque por mais imbecil que possa ser, eu desejo-lhe toda a saúde do mundo.
P.S. Essa do PV não tem um outro significado certo? (Espero que não :| )
o Rui manda uma bem certeira, a política não é necessáriamente moral, contudo seguindo estritamente essa linha, estará assim justificada qualquer ditadura ou forma de estado opressiva.
certeira, mas na vedação atrás do alvo.
porque o alvo diz respeito às necessidades veiculadas pela maioria do povo. e amoral ( coisa abstrata e incómoda para o legislador ) diz respeito EM ABSOLUTO à política e ao bom senso.
apertar a mão a um ditador numa cimeira, a dar bolinhos e vinho do porto enquanto o seu povo sofre sanções ( por causa de quêm? )e abraçar o senhor das arábicas chibatadas... é igual sim senhor... e ambas criticáveis.
ah...
e o estado, somos todos nós e não "eles"!
Pedindo perdão pelo atraso na resposta.
Não se pode dizer que "blogosfera portuguesa" seja particularmente
variada: o que diz um dizem todos, gregário concerto de caçarolas que não brilha pela qualidade polifónica. Explico-me isto pela pela quase consanguinidade social e cultural em que banham estes indivíduos da "classe média portuguesa", que por si já não brilham por ser
particularmente originais, que não se seja relativamente à postura, misto de derrame infindável dos estereótipos que por vezes aqui chegam já desbotados, e da extravagante mania "de serem mais espertos e manhosos que os outros" o que faz deles enfadonhos dadores de lições, e me fazem dizer que por algumas dezenas de anos ainda, "OS MAIAS" serão serão uma fronteira intransponível deste nosso/vosso delicioso recanto assaloiado. Portovigário
Já a sua verborreia tem muito de original... Lamento mas recuso-me a conversar com alguém que debita estereótipos a torto e a direito e parte para a ofensa sem sequer conhecer com quem fala.
Reciprocamente não me impediu de ler cuidadosamente a sua...não penso estar longe da verdade, logo se verá, sou um atento leitor seu.
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