O pecado mora ao lado
Francisco José Viegas entrevistou, na passada quarta-feira no "Escrita em Dia", Miguel Real.
É uma entrevista interessante a todos os níveis.
Miguel Real* utiliza, no seu livro, Snu Abecassis como narradora da história.
No diálogo entre FJV e MR, Snu aparece como personagem consciente da mesquinhez de um certo Portugal, ela uma mulher alta, loura, bonita, que "rouba" o homem da nação à pacatez dos brandos costumes.
FJV leu, por duas vezes, extractos do livro de MR e a voz de Snu lá está como personagem endeusada e uma oportunidade perdida pelo país das elites mesquinhas, bolorentas e mal formadas.
Snu é a personificação de uma Europa que nos iluminará e fará brilhar enquanto povo pouco esclarecido, pouco educado, invejoso, mal preparado, culturalmente arruinado.
MR dá exemplos caricatos de "planos tecnológicos" ao longo da nossa história e de personagens que se auto-exilaram (Sá de Miranda, por exemplo) e desvaneceram às mãos dos incautos, mesquinhos, bolorentos, invejosos, mal preparados, mal educados, portugueses.
Nós perdemos a oportunidade Snu, nós perdemos todas as oportunidades, nós no eternamente e fadário desajustado.
Enquanto o programa decorre uma duvidazinha muito quixotesca surge no horizonte: uma Universidade revisitando cíclica e "fatalmente" velhas mitologias é capaz de formar cidadãos críticos, questionantes, em busca de um lugar no mundo?
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* - professor universitário de filosofia.
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4 Comments:
Correcçãozinha: Miguel Real é professor de filosofia na Escola Sec. de Santa Maria, na portela de Sintra.
Como simbologia parece-me muito rasteira a história da mulher alta loira e bonita.
Não é que eu, apesar de bolorento, borbulhento, feio, invejoso, etc.., tenha alguma coisa contra mulheres loiras (naturais ou não) altas e bonitas.
É que desde a morte de Snu se alguma coisa mudou em Portugal, foi a eclosão, num País macerado por gerações de mulheres baixas, gordas, de bigode,véu preto e pele encarquilhada de miríades de borboletas altas, loiras e bonitas. Basta passearmo-nos na rua e cruzarmo-nos com uma dessas aspirantes a modelo quando passeia acompanhada pela Mãe.
Isto deveria dar que pensar ao Miguel, à NancyB e a nós todos: o que se passou entretanto no País cinzento? O que permaneceu? O que mudou? Qual o próximo arquétipo civilizacional suficientemente eloquente para recolocar na ordem do dia a lamúria sobre o nosso ocaso épico, o nosso presente fotogénico mas patético, o nosso futuro transgénico?
Obrigada Luna, pelo esclarecimento.
Rui, ao q parece as Produções Fictícias pretenderão alinhar estratégias de humor em relação às suas questões. Gostaria de contrariá-lo só numa pequena nuance: as suas interrogações seriam bem mais pertinentes se não as encerrasse nalguns preconceitos. Estou com muita curiosidade para ler o estudo de mercado patrocinado (?) pelas PF e ao q parece se poderá ler no site.
A sua generalização acerca das mulheres portuguesas deixa, infelizmente, de fora mulheres lindíssimas, como, por exemplo, Amália Rodrigues, Natália Correia, Sofia de Mello Breyner, Maria Helena Vieira da Silva, entre outras, algumas actrizes de teatro famosas, cujos nomes agora não lembro. Regalo-me com as fotos das minhas tias, agora a rondar a casa dos 80's, e a comprovar, na prática, o quanto a sua generalização poderá servir a ideologia dominante e alienada: o que vem de fora é que é bom.
Eu poderia responder a aspectos secundários do comentário acima mas não me serviria de nada estrebuchar porque a realidade é simples.
Eu interpretei mal o texto (inteligente como sempre ) da Nancy e ela deu-me nas orelhas.
Só me resta pedir-lhe desculpa. Como consolação (minha) e se tal me é ainda permitido, apenas garantir que não me revejo na tal ideologia alienada.
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