Carta aberta ao Pai Natal (Reloaded)
Imagem via: Little Bow Peep
Querido Pai Natal,
Já não lhe escrevo faz muito tempo mas espero que ainda se lembre de mim. Eu sou aquele André que em Dezembro de 1975 lhe pediu pelo Natal uma matraca e uma bandeira do MRPP. É. Sou eu mesmo! Mas espero que desta vez não se engane, porque em 75 deixou-me na chaminé uma bandeira do CDS e uma moca de Rio Maior. Também foi divertido mas acabou por me criar alguns problemas de integração no infantário da Voz do Operário. Mas como águas passadas não movem moinhos, estou-lhe agora a escrever para que interceda directamente junto do Menino Jesus porque já não sei mais a quem recorrer. O que agora me aflige e me faz dirigir-lhe esta carta é o caso das minhas queridíssimas tias continuarem a presentear-me todos os anos por esta época festiva com carradas da bela da peúga branca da Feira do Relógio™, e até o senhor Padre Freire já foge de mim depois da Missa do Galo. O ano passado ainda o consegui apanhar quando ele ia a sair de fininho pela porta lateral da Igreja, lá pela zona dos velórios. Foi mesmo ali que o senhor Padre me comunicou que era a última vez que aceitava os meus donativos para os pobrezinhos no Natal. Segundo ele, já não há pobrezinhos em Lisboa a necessitar de peúgas brancas – e também já não há espaço livre na Secção Peúgas Brancas do armazém da Diocese. Aproveito para o informar que foi o próprio senhor Padre Freire que me deu esta ideia de escrever ao Pai Natal, e até me disse que lhe podia dizer que vinha da parte dele. É que no ano passado quanto estava a abrir as minhas prendas não consegui conter a emoção e desatei num pranto quando constatei que mais uma vez tinha para cima de três dezenas de packs com as mais diversas variedades da bela da peúga branca – e todas 100% poliéster. As minhas tias também ficaram muito emocionadas e agarramo-nos todos a chorar. O que me preocupa é que quando as minhas tias me telefonaram este ano para acertar os últimos preparativos da consoada não houve nenhuma que não tenha recordado com saudade aquele momento de emoção colectiva que vivemos no Natal passado. Temo, portanto, que este ano as minhas tias sejam ainda mais generosas do que nos últimos natais. Mas a minha maior preocupação é que o senhor padre Freire me excomungue de vez da Santa Igreja quando me vir chegar mais uma vez à Missa do Galo carregado de sacos e mais sacos de peúgas brancas.
Peço-lhe encarecidamente que transmita ao Menino Jesus que se ele fizer o obséquio de acabar com este meu sofrimento prometo nunca mais gozar com os jeitinhos amaricados do “nosso” Primeiro-ministro. Diga-lhe mesmo que eu não me importo que me ofereçam daquelas caixinhas pirosas de madeira que se vendem nas lojas chinesas – pelo menos não há- -de faltar lenha para o inverno.
Bem… por agora é tudo. Espero que o buraco do ozono não esteja a afectar muito a neve no pólo norte e que o senhor Pai Natal e as Donas Renas de se encontrem todos bem de saúde.
Desde já lhe agradeço toda a sua melhor atenção para este meu melindroso problema.
Atenciosamente,
André
Já não lhe escrevo faz muito tempo mas espero que ainda se lembre de mim. Eu sou aquele André que em Dezembro de 1975 lhe pediu pelo Natal uma matraca e uma bandeira do MRPP. É. Sou eu mesmo! Mas espero que desta vez não se engane, porque em 75 deixou-me na chaminé uma bandeira do CDS e uma moca de Rio Maior. Também foi divertido mas acabou por me criar alguns problemas de integração no infantário da Voz do Operário. Mas como águas passadas não movem moinhos, estou-lhe agora a escrever para que interceda directamente junto do Menino Jesus porque já não sei mais a quem recorrer. O que agora me aflige e me faz dirigir-lhe esta carta é o caso das minhas queridíssimas tias continuarem a presentear-me todos os anos por esta época festiva com carradas da bela da peúga branca da Feira do Relógio™, e até o senhor Padre Freire já foge de mim depois da Missa do Galo. O ano passado ainda o consegui apanhar quando ele ia a sair de fininho pela porta lateral da Igreja, lá pela zona dos velórios. Foi mesmo ali que o senhor Padre me comunicou que era a última vez que aceitava os meus donativos para os pobrezinhos no Natal. Segundo ele, já não há pobrezinhos em Lisboa a necessitar de peúgas brancas – e também já não há espaço livre na Secção Peúgas Brancas do armazém da Diocese. Aproveito para o informar que foi o próprio senhor Padre Freire que me deu esta ideia de escrever ao Pai Natal, e até me disse que lhe podia dizer que vinha da parte dele. É que no ano passado quanto estava a abrir as minhas prendas não consegui conter a emoção e desatei num pranto quando constatei que mais uma vez tinha para cima de três dezenas de packs com as mais diversas variedades da bela da peúga branca – e todas 100% poliéster. As minhas tias também ficaram muito emocionadas e agarramo-nos todos a chorar. O que me preocupa é que quando as minhas tias me telefonaram este ano para acertar os últimos preparativos da consoada não houve nenhuma que não tenha recordado com saudade aquele momento de emoção colectiva que vivemos no Natal passado. Temo, portanto, que este ano as minhas tias sejam ainda mais generosas do que nos últimos natais. Mas a minha maior preocupação é que o senhor padre Freire me excomungue de vez da Santa Igreja quando me vir chegar mais uma vez à Missa do Galo carregado de sacos e mais sacos de peúgas brancas.
Peço-lhe encarecidamente que transmita ao Menino Jesus que se ele fizer o obséquio de acabar com este meu sofrimento prometo nunca mais gozar com os jeitinhos amaricados do “nosso” Primeiro-ministro. Diga-lhe mesmo que eu não me importo que me ofereçam daquelas caixinhas pirosas de madeira que se vendem nas lojas chinesas – pelo menos não há- -de faltar lenha para o inverno.
Bem… por agora é tudo. Espero que o buraco do ozono não esteja a afectar muito a neve no pólo norte e que o senhor Pai Natal e as Donas Renas de se encontrem todos bem de saúde.
Desde já lhe agradeço toda a sua melhor atenção para este meu melindroso problema.
Atenciosamente,
André
Etiquetas: Canal memória, Posts de outros natais
4 Comments:
E eu que já tinha ido à feira, André :-)
O blogue Alma Pátria deseja a todos um FELIZ NATAL
O poliéster não arde na lareira??
;)
Boas Festas!
Esta tua carta é fantástica.
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