quarta-feira, setembro 12, 2007

do capitalismo

Não tenho nada contra o capitalismo.
Aliás, era profissão que eu não menosprezaria.
Um capitalista viaja em carros interessantes, acima de tudo confortáveis; compra um camarote no São Carlos e oferece bilhetes a amigos desinteressados em negócios; viaja sempre em hotéis 5 estrelas; gasta algumas centenas de euros por dia em despesas de representação, a empresa precisa sempre de embaixadores notáveis; paga alguns euros por novos relatórios para implementação de um novo aeroporto e, acima de tudo, reconhece a legitimidade da "realidade".
Um capitalista, verdadeiro, olha para "a realidade" e magica fenómenos magistrais de ganhar milhões de euros com "a realidade" a quem paga apenas euros.

Ao longo da história da humanidade a instituição que inventou o capitalismo, antes de ele existir, foi a Igreja.
A Igreja é um capitalista que vende o seu produto "à realidade" mas com palavras enternecedoras:

ah e o sentido da vida!?

O sentido da vida, apoiado em palavras bentas, abriu sucursais, os actuais franchising, um pouco por todo o mundo, globalizando alguns valores, acoplados a parcos interesses económicos.

Não poderemos, nunca, acusar a Igreja de pretender lucrar com alguma coisa. Só anda nisto por amor à camisola e por pura caridade, como aliás alguns ex-capitalistas reformados, acabadinhos de chegar a uma ONG perto de si.

O capitalista está sempre com os olhos abertos "à realidade" e, perante nichos de mercado, não hesita.

Daí que tenha regurgitado todas as estrelas rebeldes do rock.

Por isso, ficarei sempre muito comovida com entrevistas a ex-administradores de empresas capitalistas em decadência, que um dia se instalaram, definitivamente, nos seus gabinetes com vista para o rio, cadeiras de pele e secretárias de madeira baratíssima, enchendo o ego, diariamente, com os milhões venturosos dos Elvis, Morrisons, Joplins, Cobains e futuros candidatos Whinehouses e Dohertys, semicerrando as pupilas (ouve o barulho quezilento da caixa registadora?) e magicando: qual será à próxima ex-estrela rock e, de preferência, defunta?

O grave problema de um capitalista é ser humano. Um dos pecados capitais, mais usuais, deste tipo de animal, invade-o e, por vezes, aliena-o da "realidade".

Durante o período de alienação, do capitalista instalado, há uma rapaziada "real", aspirantes a novas categorias sociais, graças à bendita e irreverente mobilidade social, que inventam formas de "a realidade" aceder a tal produto, gratuitamente.

E, lástima das lástimas, o administrador da editora, sediada algures no planeta terra, de repente no desemprego. E a editora a deixar de facturar milhões porque uns malvados capitalistas andam a ganhar dinheiro à custa dos direitos de autor.

Já viram como as editoras, de repente, se passaram a preocupar, imenso, com os direitos de autor?

Eu que sou uma capitalista em potência, mas com os olhos sempre fechados ao mercado, compreendo, como ninguém, a comiseração destes ex-administradores.

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2 Comments:

Blogger Y.SA said...

Fala amigo... lhe conviei p/ um meme... dah uma olhada...

http://blogdoaragao.com/?p=18

quarta-feira, setembro 12, 2007 3:13:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Excelente texto!

quinta-feira, setembro 13, 2007 1:55:00 da manhã  

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