segunda-feira, junho 25, 2007

Sofá vazio

Na véspera, ele disse que iria ele ver o meu pai. A minha mãe anuiu e eu concordei. Quando regressou, vinha tenso e pálido, com o rosto cerrado e disse baixinho, quase inaudível, julgo mesmo que nós as duas, baixitas e expectantes, lhe pedimos que repetisse o que dissera. Soltou então, como um sopro, como eu julgo ter partido o meu querido pai, Faleceu e repetiu Já faleceu. Abraçámo-nos os três e chorámos ali mesmo, no átrio do hospital, baixinho, abraçados sempre como se um fôssemos. E depois, vieram os amigos, a igreja e as flores, e depois, deixámos-te, meu querido pai, naquele sítio onde ainda só uma vez fui, e depois vieram dias e noites e mais dias. Dias há em que penso ainda que irei encontrar-te de sorriso aberto, sentado no teu sofá de eleição, esperando-nos ansioso, pela hora do almoço, refilando com uma notícia da televisão ou presenteando-me com uma peça de fruta, escolhida com o teu carinho único, Toma, escolhi para ti. A casa tornou-se enorme sem ti e o sofá continua vazio.


O momento passado que escolhi quando fui gentilmente convidada a participar Nestes momentos.

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3 Comments:

Blogger Pitucha said...

Um abraço apertado.

segunda-feira, junho 25, 2007 7:26:00 da manhã  
Blogger james stuart said...

Querida Leonor.
Esta vinda ao Geração Rasca deixou-me triste, muito triste.
Tenho, enquanto escrevo, lágrimas, porque penso que a minha sorte é diferente da sua. Tenho Pai e Mãe, ali tão longe, mas sempre tão perto a cada Domingo que telefonamos. Aprendi, com a idade a esquecer os momentos menos bons, as ofensas passadas e ganhar cada dia do futuro como mais um dia que devo aproveitar em que eles estão ali, mas não para sempre.
Quando vou a Portugal tento passar um maior tempo possível e razoável com eles... como sempre fosse uma última vez.
Esse espaço vazio, rejeito ter que sentir como a Leonor sente, mas não terei essa escolha quando assim tiver que ser.

segunda-feira, junho 25, 2007 10:26:00 da manhã  
Blogger LeonorBarros said...

Escolhi este texto porque ironicamente foi com ele que iniciei a minha vida na blogosfera. Não queria, de forma alguma, que ficassem tristes. Talvez seja egoísmo, porque vivendo um momento assim, esquecemo-nos, quem sabe, do que poderá provocar a leitura do texto.
A ausência é um espaço que jamais será preenchido.
Beijos

segunda-feira, junho 25, 2007 11:55:00 da manhã  

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