domingo, maio 06, 2007

Continuar a bater na mesma tecla

Quanto mais leio poesia do século XX, mais me certifico que no mundo não houve poeta melhor do que Pessoa. Para além da escrita, há algo nele com que me identifico. Já pensei que fosse o misticismo, o que é pouco provável por causa do meu ateísmo a religiões e misticismos; a atitude anglófila era possível, mas não acho que gostar de uma mesma cultura seja suficiente para gerar uma tão grande aproximação. E ainda cheguei admitir como hipótese o patriotismo, mas o quotidiano rapidamente me fez desistir da ideia. Até que um dia, sem esperar (estas coisas aparecem sempre quando estamos a escolher a marca de azeite que devemos comprar) encontrei aquilo que procurava: identifico-me com Pessoa porque ele era um tipo igual a nós. De manhã atendia uns telefonemas, à tarde fazia a escrita da empresa e, ao fim do dia, depois de passar pela taberna, escrevia. Pessoa não era mais do que um blogger. Isto é, um tipo igual a mim: de dia escritório, à noite escrita. Porém com duas pequenas diferenças: eu não passo pelo café ao fim do dia e Pessoa, à noite, escrevia coisas como esta:
«Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.»
ao passo que eu escrevo coisas como a que acabaram de ler. Enfim, pormenores.

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