sexta-feira, abril 27, 2007

Somos Diferentes


Somos diferentes, Coração sem par!
Nós, e os fins a que estamos destinados.
Os anjos que nos guardam, admirados
Se fitam, quando cruzam a voar.

Tu costumas palácios frequentar,
Onde vês, do teu canto fascinados,
Brilhar mil olhos, mais iluminados
Do que os meus, mesmo em pranto a transbordar.

Porque vens escutar, na escuridão,
A pobre, triste e pálida canção,
Que eu canto, pelo mundo a vaguear?

A tua fronte em bálsamo está ungida;
A minha, pelo orvalho humedecida.
Só a Morte nos pode nivelar.

BROWNING, Elizabeth Barrett, Sonetos Portugueses, Lisboa, Relógio d'Água, sd, p.17

Elizabeth B. Browning, poetisa inglesa, nasceu em 1806 e faleceu em 1861.
De saúde débil viveu, durante 7 anos, em regime de reclusão.
Aos quarenta anos de idade conheceu o poeta Robert Browning, com o qual se casou e com quem foi viver para Itália, local onde morreu a 30 de Junho de 1861.
"Conta-se que, um dia, já depois de casados, Elizabeth entrou no gabinete do marido com um maço de papéis na mão, e, pousando-o na sua mesa de trabalho, disse «lê isto», e retirou apressadamente. Robert leu o que ela tinha deixado. Em 44 lindíssimos sonetos, escritos desde a data do seu primeiro encontro até àquele dia. (...)
Maravilhado, Robert pediu a Elizabeth que publicasse aqueles sonetos. Ela recusou, por não querer tornar públicos os seus sentimentos mais íntimos. Robert, então, lembrou dar-lhes um título que indicasse tratar-se de traduções, por exemplo, «Sonetos Traduzidos do Bósnio». Elizabeth acabou por aceitar a sugestão; mas, achando certa semelhança entre os seus sonetos e os de Camões - julgo que pela análise delicada do sentimento amoroso -, preferiu chamar-lhes «Sonnets from the Portuguese» (...). Imprimiram-se com esse título, e sem nome de autor, em 1847; só depois da morte de Elizabeth foram publicados, com o seu nome, pelo marido. São, talvez, os melhores sonetos de amor de toda a literatura inglesa."

Manuel Corrêa de Barros in Introdução, Idem, p.8-9
imagem

Etiquetas: ,

Partilhar