terça-feira, abril 17, 2007

O combate político

Apesar de ser bastante avessa à actividade política, aprecio o combate que travam os seus protagonistas.
No mundo do poder não há inocentes.
Compreendamos o seguinte: durante a alternância ideológica existem milhares de protagonistas e apenas umas centenas de cargos, se apenas umas centenas chegam aos lugares cimeiros, há a necessidade de se fazerem alianças, promessas, e, como também é sabido, existem promessas difíceis de cumprir, resultando o mesmo em frustrações, que alguns apelidam de traições, malentendidos derivados de subentendidos, etc.
Não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que uma vítima angustiada, na política, não troque rapidamente de posição assim que a sua hora surja.
Posto isto passemos para o mundo dos comentadores do combate político.
São conhecidos as ideologias de Miguel Sousa Tavares, José Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Pulido Valente, António Barreto, entre outros.
Em todos eles vemos, de uma forma geral, a tentativa de serem imparciais, sendo umas vezes mais felizes e outras menos.
Efectivamente, nem sempre o pensamento e a inspiração ajudam e na actividade da escrita ambas precisam de uma relação equilibrada e íntima.
O que nem sempre acontece, pois até os comentadores políticos são dados às fraquezas e às intempéries da emoção.
Assim, é sempre positivo sabermos alguma coisa de matemática, sempre que lemos um comentador político.
No texto "Castigando os Costumes" José Pacheco Pereira pretende exercitar a imparcialidade analisando o cartaz do PNR e do Gato Fedorento.
A discussão de fundo é um tema politicamente (in)correcto: o racismo, a xenofobia contra os imigrantes.
O PNR com um discurso pretensamente xenófobo, politicamente incorrecto;
O Gato Fedorento com um discurso anti-xenófobo, politicamente correcto.
Diz JPP.
E em nome da imparcialidade ideológica, também diz JPP, que "por dizer aquilo que toda a gente pensa e não diz" a mensagem do PNR é mais eficaz.
Não estou aqui para fazer favor nenhum nem à extrema esquerda nem à extrema direita, sou avessa a ambas as opções políticas, pois, nem num caso, nem noutro, a vida humana é tida em conta, uma vez que os fins políticos justificam os meios e, não é por acaso, que ambos se aliam, quando lhes é conveniente, a regimes que andam de mão dada, muito obscuramente, com o terrorismo.
Mas o que eu considero curioso no artigo imparcial de JPP é a tentativa de legitimação do PNR pelo discurso politicamente incorrecto e pela eficácia e inteligência da mensagem e dizer o contrário dos rapazes do Gato Fedorento.
É que no fundo, bem no fundo, JPP sabe que o verdadeiro combate político a ser travado é com os humoristas e não com um grupo insignificante de seguidores de Le Pen.
Agora também considero curioso os Gato Fedorento dizerem no cartaz: "Com portugueses não vamos lá". Sinceramente não consigo livrar-me destas dúvidas cartesianas:
- porque raio continuarão os GF a viver cá?
- será que a melhor maneira de chatear os GF é obrigá-los a viver no estrangeiro?

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9 Comments:

Blogger amok_she said...

«(...)Agora também considero curioso os Gato Fedorento dizerem no cartaz: "Com portugueses não vamos lá".»

...xiiiii, mas então e a ironia (mais ainda: o sarcásmo) não é para se ler, no cartaz?!?ai,ai,ai...:=>

...ou as tuas dúvidas cartesianas são a tua expressão dessa mesma ironia e/ou sarcásmo?!?:=>

terça-feira, abril 17, 2007 9:43:00 da tarde  
Blogger cristina said...

A parvoíce do cartaz do PNR não é discutível (para mim). E é claro que o cartaz dos GF é para ser lido com a «ironia» e o «sarcasmo» que diz a amok, ali em cima. Mas, e como diz JPP, «uma coisa é fazer uma capa do Inimigo Público, ou um cenário de um sketch televisivo, outra é um cartaz numa praça pública»

Para mim a questão é mesmo essa...

Enquanto todos aplaudiam a iniciativa dos GF, eu não consegui conter uma indignaçãozinha pelas frases que ele continha. Sim, já sei: «ironia» e «sarcasmo»... Mas mesmo assim... num cartaz... Não sei bem o que vos diga... Achei mal...

terça-feira, abril 17, 2007 10:20:00 da tarde  
Blogger NancyB said...

Amok,
É o q a Cristina diz num espaço público, num cartaz... nã sei não...

quarta-feira, abril 18, 2007 2:34:00 da tarde  
Blogger NancyB said...

Amok, Cristina,
E depois aquele sarcasmo e aquela ironia "cheiram-me" a auto-flagelação...
e tb já não tenho paciência para este tipo argumentação...
já chega de bater no ceguinho!

quarta-feira, abril 18, 2007 2:39:00 da tarde  
Blogger amok_she said...

Pois eu não li assim e só(!) li duma maneira: aquele cartaz era tão só a resposta ao outro, nada mais q isso!, por isso mesmo essa resposta só teria cabimento no mesmo espaço...se é público, ora não o são todas as intervenções do GF?, se ñ fossem nem as conheciamos...repare-se q o cartaz foi colocado, de imediato retirado pela CML - apesar de continuar exposto tanto lixo por essa Lisboa fora! - e não mais foi usado... senão para a repercussão q o caso acabou por ter...isso, sim, isso é q foi a verdadeira intervenção cívica do GF...

...qt ao q o JPP diz, bahhhhh... ele gosta mt mais de exibir aquele arzinho de quem consegue estar por deus e pelo diabo...tretas de sobranceria de intelectual snob...:=>

quarta-feira, abril 18, 2007 11:36:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Nancy:

Como o assunto para ti é sério eu limito-me a dizer que só ofende quem pode, não ofende quem quer.

quinta-feira, abril 19, 2007 1:46:00 da manhã  
Blogger cristina said...

nancy:
Não diria que aquela ironia cheirasse a «auto-flagelação»... Mas, realmente, é um ponto importante, perceber até que ponto aquelas frases seriam "apenas" irónicas...

amok:
De JPP aproveito-lhe aquela frase... pouco mais... ;)
Quanto ao cartaz.. «era tão só uma resposta ao outro» - claro! Mas o meu "problema" é o suporte da resposta. Não estou habituada a ver cartazes que não reproduzem pensamentos, que não defendem ideias... E, pode parecer estúpido, mas nem todos são obrigados a saber que os GF são um grupo de humoristas! Quem estiver descontextualizado como é que se enquadra nessa «ironia» e «sarcasmo»?! O meu "problema" com o cartaz é que ele vem ocupar, sem "aviso prévio", um espaço público, tido como "sério"... O «Inimigo Público, ou um cenário de um sketch televisivo» fazem por si só essa contextualização - importante!!! Lá está, admito que possa ser só falta de hábito... Mas, até lá, acho que hei-de continuar a achar mal...

quinta-feira, abril 19, 2007 8:39:00 da manhã  
Blogger amok_she said...

E estás no teu perfeitissimo direito de continuar a achar mal...tal como eu achei mal e incorrecta a última resposta da Nancy!, por isso e pq ñ sou grande fã do '...por mim, ou contra mim...',vou calar-me!, é q eu tb já ñ tenho pachorra para certo tipo de arrogância mal dirigida.

quinta-feira, abril 19, 2007 10:18:00 da tarde  
Blogger cristina said...

Sinto que me está a escapar alguma coisa... Alguém aqui foi arrogante???!!!... Da minha parte, peço desculpa, se feri susceptibilidades...

sexta-feira, abril 20, 2007 10:05:00 da manhã  

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