Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
Etiquetas: Mês da Poesia
6 Comments:
Quando conheci este poema, a minha primeira impressão foi a de um excesso de concretismo, com a utilização de palavras banais e acções bem reais... A poesia era suposto ser lírica, metafórica, usando expressões pomposas e palavras caras, apelando a sentimentos exarcebados... Eu sei que não tem de ser, mas era a minha ideia na altura... Talvez, por isso, tenha, desde logo, gostado tanto deste poema!
E quem é que canta isto? Carlos Mendes? Leonor, há q tempos não lia isto. É tão bonito!
Eu só conhecia cantado por Manuel Freire... Mas, pelos vistos, é cantado por Duarte Mendes - que desconhecia em absoluto...
Pode ouvir-se aqui.
O «aqui» dali de cima ficou um bocado estranho... O endereço é:
http://dezbe.esenviseu.net/sons/lpreta.mp3
Se não fosse por mais, e claro que é por muito mais, este poema valeria como uma prova da ignorância do racismo. Em seis singelas quadras desmonta toda a patetice...
Ainda bem que gostaram, é um dos meus preferidos também e que nunca é demais lembrar.
Beijos a todos
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