Claridade (e escuridão)
Neste Mês da Poesia, que está a terminar, tenho-me lembrado muito da minha professora de Português do ciclo. Todas as semanas, ou, pelo menos, semana sim, semana não, parte do sumário era «Produção de um texto escrito». E isto consistia em, a partir de um tema, de uma forma ou de uma leitura construirmos nós um pequeno texto, sendo que o privilegiado era, de longe, o texto poético. Fazíamos pequenas quadras, ou variações de uma estrutura; às vezes saíam coisas interessantes, outras vezes nem por isso; às vezes dava gosto, outras vezes, confesso, enfado. Quando se conseguia, de facto, escrever alguma coisinha de jeito, dava gosto; mas havia alturas em que passava os 10 minutos a juntar duas palavras – e mal! Admiro a criatividade e a perseverança do escritor. Muito raramente escrevo um texto à primeira e o escrever e voltar a escrever sem se chegar a lugar algum consegue ser bastante frustrante... Aqueles momentos de produção poética no 5º e 6º ano foram bons exercícios – que eventualmente até tinham bons resultados...
Lembro-me, uma vez, de termos feito, um poema a partir de uma leitura, procurando como que explorar-lhe o outro lado. Lembro-me que o meu falava do escuro e de uma rapariga num cesto de verga... Busco os cadernos, à procura... Achei! «Escuridão». Falta agora achar o original, que não sei de quem é, mas lembro-me que fala do branco, da luz e de uma rapariga a estender roupa... Busco o manual do 6º.ano... Achei! «Claridade» de Miguel Torga. E, num momento de narcisismo, aqui fica mais um (dois!) poema que me diz alguma coisa, de alguma forma, a fechar a minha contribuição poética do Mês.
Lembro-me, uma vez, de termos feito, um poema a partir de uma leitura, procurando como que explorar-lhe o outro lado. Lembro-me que o meu falava do escuro e de uma rapariga num cesto de verga... Busco os cadernos, à procura... Achei! «Escuridão». Falta agora achar o original, que não sei de quem é, mas lembro-me que fala do branco, da luz e de uma rapariga a estender roupa... Busco o manual do 6º.ano... Achei! «Claridade» de Miguel Torga. E, num momento de narcisismo, aqui fica mais um (dois!) poema que me diz alguma coisa, de alguma forma, a fechar a minha contribuição poética do Mês.
Claridade Clareou Vieram pombas e sol, e, de mistura com Sonho, pouso tudo num telhado... (Eu, destas grades, a ver, desconfiado). Depois, uma rapariga loira, (era loira) num mirante, estendeu roupa num cordel: Roupa branca, remendada, que se via que era de gente lavada, e só por isso aquecia... E não foi preciso mais: Logo a alma clareou por sua vez. Logo o coração parado bateu a grande pancada da vida com sol e pombas e roupa branca, lavada. Miguel Torga ....................................................... | Escuridão Escureceu Passaram bichos ao luar com vontade de sonhar que nos seus ninhos foram pousar (E eu do meu quarto a olhar). Depois, uma rapariga negra (era negra como a noite) deitou-se num cesto de verga. Pobre rapariga, não tem casa, não tem lar (e eu do meu quarto a olhar). A minha alma ficou preta (preta como carvão) ao ver a rapariga negra a dormir quase no chão... ..................................................... |
Etiquetas: Mês da Poesia, Para memória futura, Versejando
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