segunda-feira, março 05, 2007

Nick Cave, ou um Tratado sobre as Canções de Amor

À nova geração de 'Músicos', que gostam de compor baladas sentidas, que puxam à lágrima, ao amor profundo e à profundidade do sentimento - sim, que profundidade é convosco-, deixo-vos dois exemplos de como ainda estão longe, muito longe mesmo, de compor uma canção de amor.

Para além do palminho de cara que sei de fonte segura que V/Ex.as têm, e que, embora não acreditem, não interessa muito neste assunto, é preciso ser dono de um vozeirão como o deste senhor, mas num estilo diferente. Caso contrário, perde-se essa coisa estranha para vós que dá pelo nome de originalidade. Depois, é preciso que as letras não se esgotem em lugares comuns, e que tenham tiradas de génio. Exemplificando:

O we will know, won't we?
The stars will explode in the sky
O but they don't, do they?
Stars have their moment and then they die


Ou seja, a letra de uma canção de amor será tanto melhor quanto mais se aproximar da majestade da Poesia. Sabendo a dificuladade que V/ Ex.as têm no Português, o melhor é mesmo pedir a alguém que faça o trabalhinho por vós. Mas certifiquem-se da qualidade da coisa. Não quero que comprem gato por lebre.

Têm, igualmente, e eu sei que já estou a pedir muito, de saber tocar e compor num instrumento. De preferência, piano ou guitarra. Agora, têm de coordenar tudo por forma a atingir uma coisa infinitamente parecida com uma genial canção de amor. Que exemplifico.
Finalmente, os concertos. Para além de seguirem os passos acima descritos, para poderem apresentar uma canção de amor ao público tendo presença em palco (que vocês garantem até à exaustão como sendo nata de V/ Ex.as), incube-me informar que existem algumas matérias a rever.
Neste género de canção, quanto mais simples for a performance, mais autêntica ela se torna - e a qualidade de uma canção de amor gravita em torno da sua autenticidade. Para tal efeito, existem comportamentos de riscos a evitar. A saber: pede-se encarecidamente que se abstenham de gritinhos histéricos, coros de cinco vozes todas muito certinhas e no mesmo tom, piscares de olho à primeira fila, cenografias em cores berrantes e coreografias epilépticas em canções que, como muito bem sabemos, têm quase sempre andamentos lentos.
Sei que acabo de vos pedir uma utopia. Mas eu, olhando ao meu sentido de dever patriótico, e o GR, fazendo justiça ao seu sentido de serviço público que emana desta Festa da Música, decidimos por comum acordo apresentar-vos uma lição prática de como se deve tocar uma canção de amor em público.
Recebam esta última dica: não faz mal nenhum dedicar a canção de amor a alguém. Para finalizar, espero que V/ Ex.as vão rever a matéria que julgavam verdadeira. Porque, como se diz por estas bandas, não compõe um canção de amor quem quer, mas quem pode e sabe.

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2 Comments:

Blogger NancyB said...

Um clássico, um verdadeiro clássico!

segunda-feira, março 05, 2007 8:52:00 da manhã  
Blogger Sinapse said...

Reverência. Reverência. Reverência.

sábado, março 10, 2007 3:46:00 da manhã  

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