sábado, março 24, 2007

Canção Verdes Anos (Carlos Paredes)



«Éramos muitos em palco, quase tantos como na plateia... Quando, de repente, o Paredes ataca os "Verdes anos"; e eu pensei que aquele era um tema que tinha adorado no EP que tinha comprado pelos meus 20 anos... Os meus verdes anos... Agora estava num mesmo palco que o Paredes, fazia canções, estava ali num dia tão extraordinário como aquele. Deu-me um daqueles abalos terríveis. Foi um momento mágico, não me esqueço nunca daquele homem curvado, resfolgando e massacrando fraternalmente a guitarra...»
Sérgio Godinho em "Retrovisor", p.55
a propósito de um "canto livre" num país acabado de sair da revolução


É com muita pena que reconheço que não conheço a obra de Carlos Paredes... Conheço-lhe o génio e o reconhecimento quase unânime de todo um país vindo dos mais diversos quadrantes musicais. Mas tenho de admitir que não sei o suficiente para falar da minha boca. Daí a citação inicial, que, representa, aqui, aquilo que eu gostava de sentir, uma espécie de admiração profunda...

Disse assim Paredes:

«Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.»

«As pessoas gostam de me ouvir tocar guitarra, a coisa agrada-lhes e eles aderem. Não há mais nada.»

O mestre tem razão numa coisa: a guitarra portuguesa "deita música" belíssima! Mas é preciso saber "fazê-la cantar"!!! Embrenhada na minha ignorância da sua obra, admiro-lhe cada peça que lhe ouço como se fosse a primeira vez. Mas "Verdes Anos" é incontornável...

Deixo-vos, então, lá em cima uma sucessão de imagens em torno de Paredes e da sua guitarra ao som de "Verdes Anos" e termino, com Pessoa, dedicando este post ao (nosso!) Carlos.

Oiço, como se o cheiro
De flores me acordasse...
É música – um canteiro
De influência e disfarce.

Impalpável lembrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem...

Que i
mporta, se sentir
É não se conhecer?
Oiço, e sinto sorrir
O que em mim nada quer.

Fernado Pessoa


Canção Verdes Anos
Carlos Paredes
EP: Verdes Anos (1962)
álbum: Guitarra Portuguesa (1967)

imagem: CDGO

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4 Comments:

Blogger NancyB said...

Esta canção é arrepiante.

sábado, março 24, 2007 11:10:00 da manhã  
Blogger LeonorBarros said...

Para mim é aquela que melhor traduz a alma portuguesa. Quando ouço os "Verdes Anos" sinto-me portuguesa, no resto do tempo tem dias... E adoro a versão que foi feita para Movimentos Perpétuos do Sam the kid. Não encontro no youtube :(
Beijocas e bom fim-de-semana

sábado, março 24, 2007 11:41:00 da manhã  
Blogger Carlos Malmoro said...

Obrigado, Cristina. Já agora, essa é a proposta de poema de Pessoa para a música? (como eu sugeri no outro post) Parace-me bem...:)

Beijocas, bom fim de semana

sábado, março 24, 2007 2:14:00 da tarde  
Blogger cristina said...

nancy:
Sim... profunda e sentida... :)

leonor:
A «alma portuguesa»... Eu diria que sim, mas isso implica uma outra discussão sobre a alma nacional...
Quanto à participação do Sam the Kid no "Movimentos Perpétuos", tamém a acho muito bem conseguida. Não arranjo toda, mas há alguns minutos do "Viva!":
- vídeo do YouTube [podemos ouvir 1min do "Viva!", depois de 13seg iniciais de outra música de Zeca Afonso com Carlos Paredes, "Mar Alto" - de acordo com o blog sokedih]
- áudio [é um podcast de hip-hop do Bruto e Feio; a seguir aos jingles, ouvimos Sixtoo - "Baroque" - e depois (a partir dos 2min 15seg) temos um pouco mais que 2min do "Viva!"]

carlos:
O poema de Pessoa veio, sim, a propósito da tua sugestão. Ainda andei à procura de algo que pudesse servir de hino, mas não conseguia sair do "Mar Português"... Então decidi ilustrar a música e não o país... :)

segunda-feira, março 26, 2007 2:34:00 da manhã  

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