terça-feira, dezembro 26, 2006

Se

«Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma,

Quando os outros os perdem, e te acusam disso,

Se és capaz de confiar em ti, quando te ti duvidam

E, no entanto, perdoares que duvidem,


Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança

E não caluniares os que te caluniam,
Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine,

E pensar, sem reduzir o pensamento a vício,
Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre,

Sem fazer distinção entre estes dois impostores,
Se és capaz de ouvir a verdade que disseste,

Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos,

Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira

E construí-lo outra vez com ferramentas gastas,

Se és capaz de arriscar todos os teus haveres

Num lance corajoso, alheio ao resultado,

E perder e começar de novo o teu caminho,

Sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado,


Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos

E fazê-los servir se já quase não servem,

Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta,

A não ser a vontade que diz: Enfrenta!
Se és capaz de falar ao povo e ficar digno

Ou de passear com reis conservando-te o mesmo,
Se não pode abalar-te amigo ou inimigo

E não sofrem decepção os que contam contigo,
Se podes preencher todo minuto que passa

Com sessenta segundos de tarefa acertada,
Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,

Será teu tudo que nela existe
E não receies que te o tomem,
Mas (ainda melhor que tudo isto)

Se assim fores, serás um HOMEM.»
Rudyard Kipling

R. Kipling enganou-se: onde está HOMEM, deverá ler-se 'deus'.

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4 Comments:

Blogger cristina said...

Muito bem observado! Aquele que verifica a conjunção destas condições não é, certamente, humano.

Mas, sem querer estragar o momento,...

Podemos ver verdadeiros Homens na dijunção de todos os "se". Não temos de ser tudo isto ao mesmo tempo, mas convém que sejamos capazes de ser alguma destas coisas em algum momento...

É a diferença de leituras implícitas de "e" ou de "ou"... os deuses acumulam invariavelmente, os Homens alternam, escolhem, decidem...

[Isto ficou um bocado mais intenso do que eu estava à espera...]

quarta-feira, dezembro 27, 2006 4:39:00 da manhã  
Blogger Carlos Malmoro said...

Cristina,
Na minha leitura, R. Kipling faz uma conjunção de todas as alternativas quando diz «se assim fores...» no final do texto.

Eu, pessoalmente, embirro com a atitude moralizadora de Kipling patente, não só neste poema, mas em quase toda a sua obra; aquilo que me atrai é a forma e não o conteúdo.

Quanto aos deuses, um não-crente como eu, aceita mais facilmente que exista um homem com as qualidades patenteadas no poema do que um deus ;)

quarta-feira, dezembro 27, 2006 8:56:00 da tarde  
Blogger cristina said...

Não conheço Kipling...

Quanto aos deuses... se achares «um homem com as qualidades patenteadas no poema» avisa, porque acho que nessa altura passo a ser crente! ;)

quarta-feira, dezembro 27, 2006 9:47:00 da tarde  
Blogger Carlos Malmoro said...

e se tu achares uma mulher...[ai que a maria mata-me]

quarta-feira, dezembro 27, 2006 10:36:00 da tarde  

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