o primado do corpo...

RHx4 (Rui Horta x quatro) – assim se chama o ciclo dedicado ao coreógrafo Rui Horta (de quem já aqui falei) no Porto. Uma selecção de quatro obras para uma mostra de um percurso de 30 anos desfilou no Teatro Carlos Alberto (TeCA) e no Rivoli. Termina neste domingo com a última exibição de SETUP, a cuja estreia (neste ciclo) eu assisti na passada 5a feira.

SETUP é um híbrido muito bem conseguido entre as artes performativas, um misto entre a dança e o teatro contemporâneos, algo muito ao jeito de Rui Horta no campo do experimental. Em "palco" três bailarinos, umas cadeiras e... o público. Sim, o público é confrontado, ou melhor, é envolvido numa série de situações inesperadas e também ele constrói o espectáculo. Há um desvio da tradicional distância palco-plateia, intérprete-espectador. As bancadas e cadeiras estão frente a frente deixando no meio um corredor performativo. Há cortinas que se abrem e se fecham independentemente do que se passa do outro lado – o público, dependendo da sua posição, deixa (ou não) de ver o que se passa, não deixando, no entanto, de saber que se passa algo que alguém vê. No fundo, há uma tela onde é projectada a amplitude, a proximidade, a distância... a construção de um espaço pelo corpo. Pelo corredor, os bailarinos vão-se descobrindo e procurando o seu espaço. A dança dos corpos que se tocam, que se cruzam, que se impõem, que se completam, que se afastam,... A fala e o silêncio das vozes que nada dizem... SETUP é o primado do corpo como comunicador e a importância do espaço transformador e transformável.

Termino subscrevendo uma citação de Rui Horta no programa do ciclo:

«sair de casa para um evento cultural numa sociedade fragmentada e subjugada por uma cultura televisiva redutora é um ritual de celebração e um essencial espaço de crescimento»

[SETUP ainda está no TeCA hoje (sábado) às 21h30 e amanhã (domingo) às 16h00.]