domingo, outubro 08, 2006

a importância do 1:1

Na 6a feira Rui Horta – bailarino e coreógrafo português que comemora 30 anos de carreira – deu uma masterclass sob o tema "espaço de dança". A sua formação e áreas de interesse são bastante alargadas e o seu discurso e as réplicas da plateia (também ela diversificada) entraram no campo da reflexão. Foi muito interessante! No centro da conversa esteve o corpo: o corpo habitante e modelador do espaço, as tecnologias e o corpo, o corpo como veículo comunicador. Mas não se falou só do corpo "performador", aliás pouco se falou desse tema; todos os nossos gestos, olhares e posições dizem, mesmo sem falarmos, algo sobre nós, e isto verifica-se todos os dias em todas as situações. Falou-se também das diferenças culturais entre o oriente e o ocidente, do respeito oriental e da banalização ocidental. A nossa sociedade urbana, acelerada e globalizada tem levado a um esquecimento do corpo-comunicador que, paradoxalmente (ou não), leva a uma sobrevalorização do corpo-imagem: preocupamo-nos com o que o corpo é e não com o que ele faz ou pode fazer – em vez de um corpo activo, temos um corpo passivo ou, quando muito, reactivo.

A "importância do um para um" foi uma ideia defendida pelo coreógrafo que me chamou particularmente a atenção. Devo confessar que não percebi à primeira o seu alcance, mas não pude deixar de ir concordando. Tem uma dupla importância:

- por um lado papel do eu-e-tu e não apenas todos-e-todos, a minha visão particular do outro e a visão do outro sobre mim;

- por outro lado o contacto presencial, a importância dos tais gestos e olhares e posições que falam por nós.

Mas neste campo do presencial, o "um para um" ganha também uma maior amplitude pois reflecte a escala real – o 1:1 –; não é a escala reduzida da televisão nem a escala aumentada do cinema, é a dimensão real do palco, é a visão de um corpo que comunica à minha frente. Esta é uma grande vantagem das artes de palco: o teatro, a dança, os concertos, os recitais,... Dizia Rui Horta, obviamente e declaradamente exagerando, qualquer coisa como:

«corremos o risco de daqui a uns tempos quando levarmos os nossos filhos a um teatro eles exclamarem: "olha pai, um corpo, um corpo como o meu!"»

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4 Comments:

Blogger MissM said...

Efectivamente Rui Horta é um Sr por excelência, tanto na sua criatividade, como no talento ou na capacidade de surpreender enquanto ser humano, social e inserido no meio e na individualidade.
As suas obras reflectem isso exactamente.
Quem o viu ou conheceu pode ter a certeza de ter tido a sorte de contactar com alguém que tem uma real funcionalidade e funÇao neste mundo...

domingo, outubro 08, 2006 3:21:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Isto hoje está de facto um domingo muito intimista ...

domingo, outubro 08, 2006 11:11:00 da tarde  
Blogger cristina said...

maria:
Sinto-me... um bocado estúpida por não conhecer previamente o sr. de lado algum, mas, pelos vistos, ao mesmo tempo uma privilegiada, por ter podido conhecê-lo naquela manhã.
Quanto às obras, vi apenas neste fim-de-semana "Bones and Oceans" e, apesar de eu e o Contemporâneo termos uma relação um bocado atribulada, gostei bastante.

segunda-feira, outubro 09, 2006 8:28:00 da manhã  
Blogger Nancy Brown said...

eu e o contemporaneo tb andamos ora volta ora meia volta aos encontrões, contudo dp das entrevistas q tenho lido do Rui Horta e do teu post fiquei com bastante curiosidade.

segunda-feira, outubro 09, 2006 10:12:00 da manhã  

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