sábado, março 25, 2006

Não é Maio de 1968, é Março de 2006!

Editorial Courrier Internacional:

Maio outra vez?!

ESTUDANTES em fúria na Sorbonne, barricadas e manifestações sucessivas, batalhas campais com a polícia, sindicatos à boleia e uma torrente de cólera que engrossa à medida que todos os descontentamentos se concentram na rua, impondo a Paris um estado de sítio permanente.
Do outro lado encontram-se um Presidente da República fraco e desgastado, uma maioria governamental fraccionada, um Executivo titubeante e uma oposição em que o principal partido está longe de se afirmar como alternativa credível.
São tão numerosos os pontos comuns que a lembrança de Maio de 68 e a sua comparação com a crise das últimas semanas se tornam irresistíveis. E, no entanto, os últimos 40 anos da história da França estão recheados de falsos «Maios» como este (ver págs 8/9). «Maios» de pequenas causas que não raro correspondem à defesa de direitos sociais hoje inexistentes em qualquer outro país e insustentáveis por força das mudanças operadas com a globalização (vale a pena ver, na página 9, o que diz exactamente o projecto do Governo Villepin que desencadeou a tempestade actual para se perceber como a reacção é desproporcionada).
Quando um Governo se atreve a tomar medidas impopulares, em especial para sectores privilegiados como são, apesar de tudo, os universitários, o poder da rua levanta-se e, em geral, leva a melhor sobre o poder político. Aos olhos do mundo, este mecanismo já parece um modo de vida, um modelo muito francês de viver a vida pública. Mas o decréscimo acentuado do peso relativo da França no conjunto das nações prova que esse modo de vida não tem sido muito saudável.
Apesar da sucessão de «Maios» nos últimos 40 anos, a França pouco mudou porque os «Maios» sucessivos não foram «Maios» de mudança, como pretendeu ser o original, mas de resistência à mudança. E aí está, seguramente, uma das explicações para o prolongado declínio francês. Num país onde 76 por cento dos jovens entre os 15 e os 30 anos ambicionam ser funcionários públicos (dado referido esta semana por Claude Imbert no seu editorial de Le Point), está tudo dito sobre a ambição e o gosto pelo risco que costumam caracterizar a juventude e estão, em geral, associados ao progresso de um país. Quando toda a gente já percebeu que o Estado social está ameaçado de morte e necessita de reforma urgente para poder acudir só aos que mais precisam, os franceses dizem «não» em referendos e partemmontras pelas ruas em defesa da sua preciosa «excepção». Compreendem-se e, naturalmente, lastimam-se as razões das suas queixas. Afinal, toda a gente em todo o mundo gostaria de ter emprego fixo, para a vida e bem remunerado, com 35 horas de trabalho semanal...
Dizem os especialistas que os pequenos sismos regulares e frequentes constituem, nas zonas de risco, a melhor garantia contra a ameaça de um grande terramoto. São uma forma de a terra respirar. As barricadas contra a mudança, nos últimos 40 anos, também parecem uma forma de a França respirar, mas a verdade é que não têm contribuído senão para agravar o seu sufoco.
Tudo indica que, ao contrário do que sucede nas zonas sísmicas, estes pequenos tremores sociais são apenas o prenúncio de um terramoto. E que este será tanto maior quanto mais tarde vier a ocorrer.

Fernando Madrinha

Ainda no Courrier Internacional: Revolta em França
O que eu estranho é que o mesmo Fernando Madrinha, ainda há um mês atrás, escreveu este (outro) editorial no Courrier Internacional.
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2 Comments:

Blogger maloud said...

Estranha porquê? Ainda não percebeu que é chiquérrimo bater no francês? O português, superiormente culto e civilizado, só lê em inglês e não perde uma oportunidade, para reduzir o francês à sua insignificância.

sábado, março 25, 2006 4:21:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Eu gosto dos franceses!

sábado, março 25, 2006 5:49:00 da tarde  

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