terça-feira, novembro 22, 2005

Mais achas para a fogueira

Retomando o assunto, sucede que a "cunha" não é o único problema. Pelo menos no Estado, há um outro, igualmente grave: as carreiras. Isto de um indivíduo chegar a um lugar e, à medida que os anos passam, subir de posição, roça o ficcional. Detenhamo-nos um pouco no caso dos Professores, que é o que melhor conheço - embora agradeça que me corrijam qualquer eventual injustiça ou imprecisão minha. Durante anos a fio, digamos até hà cerca de dez anos, as comportas do ensino público abriram-se de forma pouco higiénica. Indivíduos com bacharelato, sujeitos com cursos tirados sabe-se lá onde, ou licenciados noutras áreas, tivessem médias de dez ou médias de vinte, tinham, em princípio, as portas abertas. E, uma vez chegados ao lugar, esperavam-nos quatro ou cinco anos a penar pelo País, findos os quais entravam para o quadro - palavra mágica. De há dez anos a esta parte (mais coisa, menos coisa), que sucede?: sucede que o ensino se especializou, criaram-se estágios profissionais, vedou-se o acesso a não-licenciados. Tudo muito bem: mais rigor, mais exigência. O problema é que aos outros, aos da carreira, ninguém fez nada, ninguém pediu contas. Donc, há 15 anos, um sujeito com média final de onze ou doze tinha lugar garantido, mais a Norte ou mais a Sul. Hoje, pelo menos em certas áreas, nem com médias de 15 ou mais se entra. Entretanto, que coisa tiveram de provar os do quadro? Quem lhes fez testes? Há professores que ensinam as mesmas coisas há anos - onde está a actualização científica? O que se faz é uma coisa que dá pelo nome de "acções de formação", de cuja boa parte, por pudor, convém não falar. De modo que o panorama é este: as gerações anteriores tinham as portas do ensino com um grau de abertura comparável a uma velha marafona, ao passo que as gerações actuais têm-nas cerradas. Como é evidente, não estou a dizer que antigamente só havia maus professores, e agora as Faculdades só formam génios. Nada disso. Ontem, como hoje, como sempre, há bons e maus professores. O desnível está nas oportunidades. O que a minha geração quer, não é tachos, não é lugares, não é carreiras. O que a minha geração quer é isto: oportunidades de mostrar o que vale para, no fim, prestar contas pelo trabalho feito. Eu julgava que isto é o que caracteriza um Pais avançado, mas parece que, para certos sectores, ser avançado é dizer: "toma este lugar, é teu! Sabes, daqui ninguém te tira! Somos um Pais avançado". Como acontecia na Idade Média aos filhos segundos, há, agora, uma geração (ou duas) que se sente espoliada. Só há uma consolação, uma coisa que nós temos: Tempo. Com maiúscula. Convém é não abusar. Muita gente tem dado este exemplo: em 1870, havia Democracia (nos vectores da época), liberdade e paz na generalidade da Europa Ocidental. 60 anos depois, sabemos o que aconteceu. A História não se repete. Mas pode assemelhar-se. E, depois, que não se assobie para o lado.
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1 Comments:

Blogger André Carvalho said...

Filipe, estou 100% de acordo com o que dizes, e quando falei em "bela da cunha" foi no sentido figurado. A ideia que relevo do meu post e que na minha optica está em perfeita concordância com o que escreveste foi, que o país não pode crescer nem desenvolver-se enquanto os jobs não forem para aqueles que estão mais habilitados para os exercer.

Sinceramente, e como já escrevi em alguns posts sobre este assunto, preferi fazer um post curto, para não ter a tentação de começar a ofender tudo e todos.

Enquanto não se resolver este assunto, Portugal nunca andará para a frente. Mas estes gajos não vêem isto?

terça-feira, novembro 22, 2005 11:57:00 da tarde  

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