segunda-feira, março 14, 2011

Herói do Chaimite

Como dizia o outro, lá do alto dos seus cinquentas e tais, sessenta e poucos, com uma expressão meio aborrecida, meio enfadada: “Não gosto nada destas conversas das gerações. É um daqueles temas que me chateia!”. Gere adequadamente o silêncio e as rugas na testa, que propositadamente transparecem um ligeiro aborrecimento.
Entre mais um bafo no "puro" Cohiba e um trago de Courvoisier, sente-se inesperadamente aprisionado pela lei da gravidade ao pesado cadeirão. Levanta-se a custo, não conseguindo conter uma indisfarçável manifestação de alívio, e despede-se de todos com um sempre glamoroso, “até amanhã camaradas!”.
O resquício de um invulgar bronzeado de inverno, legado da sua mais recente passagem pelos Alpes Suíços, exalta-lhe o olhar etílico.
Desliza tropegamente em direcção à porta do conhecido restaurante lisboeta, e deixa cair, inadvertidamente, o garrido cravo vermelho que lhe adornava a lapela.
Um jovem paquete fardado a rigor, refém de um sorriso contido, procura salvaguardar a delicada porta centenária à sua passagem. Mesmo à sua frente, a pisar a calçada sempre suja e evasiva do Bairro Alto, aguarda-o um já resignado BMW Série 5 Berlina.

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