sábado, maio 01, 2010

Aprender a construir uma saída

"O Estado, unidade tradicional de resolução dos problemas da sociedade, está cada vez mais limitado face à globalização. As actividades mais atractivas do ponto de vista financeiro e comercial estão a ser cada vez mais globalizadas, isto é, privatizadas e retiradas do controlo do Estado. Com a globalização económica e financeira, os benefícios do desenvolvimento industrial e os da economia de casino estão a ser cada vez mais privatizados, enquanto que os custos sociais e ecológicos da mesma globalização estão a ser localizados. Este processo de simultânea globalização e localização conduz, por um lado, a problemas financeiros que, por sua vez, levam a mais privatização e desregulação e, por outro lado, à erosão da legitimidade e autoridade política, pois que o Estado tem, cada vez mais, de mediar entre pressões globais e exigências locais.
Diz-se que o crescimento económico traz a resolução dos problemas e com o crescimento, as desigualdades desaparecem. Pelo contrário, o que está a acontecer é que a combinação e mútuo reforço das [seguintes tendências: turbo-capitalismo, desigualdades, identidade indefinida, problemas ambientais] (...) conduz inevitavelmente a um círculo vicioso em que o desenvolvimento industrial se devora a si próprio. (...) A globalização económica tem consequências desastrosas para as sociedades - pobreza, criminalidade, fragmentação, colapso, etc. -, além de corroer as comunidades e as culturas e conduzir a um fenómeno de 'desenraizamento' em que os indivíduos já não têm sentido de pertença a uma unidade social. (...) O que aqui pretendemos não é lamentar estas tendências económicas destrutivas, mas mostrar que até o ideal com que se comprometera a educação de adultos - o ideal de humanizar o desenvolvimento - se está a tornar obsoleto pelo próprio facto de o ideal de desenvolvimento já não existir. (...)
Com tudo isto - e cá está a ideia de 'Aprender a nossa saída' - temos um discurso sobre a necessidade de uma mudança qualitativa, algures pela aprendizagem coleciva, a fim de resolver esses problemas e não esperar por um milagre qualquer que os vá solucionar."

Finger, Mathias (2005). "A Educação de Adultos e o Futuro da Sociedade" In Canário, R. & Cabrito, B. (Org.) (2005). Educação de Adultos. Mutações e Convergências. Lisboa: Educa, pp. 21-22.

Por partilhar deste ponto de vista considero que os partidos tradicionais não têm formas de resolver consistentemente a actual crise. Os partidos enredam-se (enredam-nos) em soluções de circunstância, ao sabor das necessidades do investimento e da especulação. Para além dos governos se encontrarem à mercê de agências supranacionais dominadas por interesses ocultos (FMI, OCDE, OMC, OMS, UE) de onde emanam directivas, relatórios, estudos, pareceres e análises pretensamente imparciais e cujos níveis de manipulação percebemos agora (os exemplos são muitos) se escondem por detrás da objectividade e neutralidade de fachada e das gulas imparáveis dos monopólios, oligopólios e especuladores globais. A luta global a que actualmente assistimos, em torno da especulação das dívidas públicas, tornam-nos presas indefesas face à necessidade imparável de cada vez mais acumulação de capital de elites que há muito se afastaram dos seus países e populações. Considero que nem o liberalismo, nem o marxismo oferecem soluções consistentes, pois ambos se comprometeram, de formas distintas, com este tipo de desenvolvimento.
Quando as elites (económicas e políticas) deixam de se interessar pelos seus países e populações é altura de os países (e as suas populações) encontrarem outra saída.
Em 1848 Henry David Thoreau publica "A Desobediência Civil" está na altura de perceber o que defende e se as suas ideias, face à pilhagem dos bens públicos a que estamos a assistir actualmente, se poderão transformar num porta estandarte, apoio teórico, uma esperança que oriente a acção.
Responsabilizar as vítimas (os desempregados)? Apenas um subterfúgio de circunstância, um guião previsível, quiçá um filme negro, do qual, aliás, já intuímos o fim, dividir para reinar.

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