Hitler de Ian Kershaw
Ideias avulsas para todos quantos se interessam por biografias, história e política:
(a) - a humilhação infligida aos alemães (I Guerra), a crise económica-política-social mundial, os movimentos extremistas anti-semitas e o anti-bolchevismo potenciaram o nascimento do movimento nazi. Os alemães, de uma maneira geral, não se poderão considerar isentos da responsabilidade da chegada de Hitler ao poder;
(b) - Hitler manipulou as distintas corporações (agricultores, empresários, elites, sindicatos, partidos, etc.) e a sua acção demonstra-nos o seguinte: quando o poder político pretende satisfazer as reivindicações de uma corporação, esta adopta uma posição de 'cegueira' (amiúde defensiva) perante o que se passa à sua volta;
(c) - uma visão do mundo darwinista, discriminatória e a reclusão do líder à volta de um núcleo duro são extremamente perigosas;
(d) - se a personalidade do líder for autoritária e colérica, a reclusão alimenta a subserviência e a luta pela chegada ao círculo íntimo promove uma espécie de luta de todos contra todos;
(e) - alguma sorte nas estratégicas militares (entre outras) alimentaram um "EGO" megalomaníaco que se considerou acima de todos: o "escolhido", o "iluminado", o "intocável";
(f) - os fenómenos anteriores e a aversão do líder à burocracia criaram uma lógica de acção que Kershaw denominou "trabalhar em prol do líder", conceito que pretende esclarecer a forma como as personalidades mais importantes do regime, à falta de ordens precisas, interiorizaram a "visão do mundo" de Hitler e se consideraram agentes para a implementação dos seus desejos;
(g) - "trabalhar em prol do líder" conduziu à implementação do terror, legitimado através de legislação e acções discriminatórias;
(h) - a necessidade de aniquilação/movimentação das camadas "inferiores" da população para as zonas inóspitas dos territórios ocupados e a impraticabilidade da logística da acção encaminharam os líderes nazis para a inevitabilidade da Solução Final;
(i) - o objectivo expansionista era claro: criar-se um "espaço vital" para a Alemanha, tendo em conta uma economia auto-suficiente e não dependente das trocas comerciais extra-Europa. Assim, uma vida decente para todos os alemães teve uma correspondência lógica ou aniquilação, ou sobrevivência precária e vida indecente para todos os restantes povos (não arianos e cuja mão de obra era necessária);
(j) - para além do anterior foram fundamentais: uma capacidade retórica extraordinária, a manipulação de todos os meios de comunicação social, a inoperância estratégica da instituição militar e policial e a cumplicidade de um ministro da propaganda visionário.
Um livro claro, lúcido e de uma objectividade extraordinárias, contudo a objectividade de Kershaw nunca se compromete com uma ideia falsa e perigosa: a neutralidade da ciência.
Etiquetas: Análises mais que imperfeitas, Ensaio sobre a lucidez; Elisabete no mundo das fadas
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