segunda-feira, setembro 07, 2009

Racionalidade só há uma, mas a irracionalidade pode tomar muitas formas*

Para compreendermos a actual normatividade político-económica-social urge ler a Bíblia e os ensinamentos dos profetas. Está lá tudo. A cegueira que conduz à falsa verdade, a arrogância, autismo e a crença na virtude e autoridade reputada.
Há que desconfiar do cinismo e sarcasmo de determinadas figuras públicas e de como as suas soluções tão honestas, frontais e politicamente incorrectas são oferecidas como oportunidades derradeiras. As suas hipóteses e a sua pretensa neutralidade oferecem-nos todo um programa de pensamento e, em contraposição, um leque de alternativas. A pergunta que me surge amiúde para perceber o alcance da retórica política é a seguinte: esta prosa "bem aviada" beneficia quem? prejudica quem?. Vivemos tempos onde dificilmente descortinamos o sagrado do profano e vice-versa, daí que tenhamos de nos dar ao luxo de pensar.
A mistificação construída pelas ideologias em torno de determinados modelos político-económicos-sociais, não deveria compadecer-se com procissões de fé, com santinhos nos andores e tudo. Pois todos sabemos que tanto o mercado, como o Estado, como a sociedade em geral são compostos por indivíduos e por muito que os crentes defendam a sua como a solução virtuosa, todos sabemos o quanto o ser humano é mais ou menos corruptível para tal basta estar no momento certo na hora certa.
A maior parte dos políticos deram mostras de pouco terem aprendido com a presente crise, já para não falar nas anteriores. Mas entre as diversas (ir)racionalidades do momento e as nossas há, felizmente, outras (ir)racionalidades que se nos oferecem. Para fazer face ao actual contexto editorial da maior parte dos meios de comunicação social deveremos ler a informação de forma cruzada, para que se perceba o que está realmente em causa. Isto se estivermos mais ou menos interessados em perceber o que se passa à nossa volta, caso não estejamos há sempre a usual burocracia e regulamentação mental oferecida, de forma bastante acessível até, pelas ideologias. O objectivo é afinal a desburocratização do pensamento e a busca de soluções alternativas.
O pensamento mais irónico que me ocorre é que no meio de tudo isto tais soluções alternativas serão provavelmente as pretensas verdades inquestionáveis do futuro, o que prova que contrariamente ao que vaticinou Fukyama a história da humanidade não chegou (nem chegará) ao fim.

* - Sérgio Rebelo Expresso, Caderno Economia, p.3, 3.ª coluna, “Como é que a teoria económica vai sobreviver?”. Afirmações como esta são de uma fé incondicional na razão Universal, como única detentora do saber. Ora tal argumento está tão discutido que custa ainda ler estas afirmações na comunicação social. Há só uma racionalidade? Valha-nos Nossa Senhora das Necessidades!

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1 Comments:

Blogger MRP said...

O próprio Fukyama já se retractou mas infelizmente ainda anda por ai muita rapaziada encostada à sombra desse pretenso consenso.

Já com certeza alguém disse isto, mas eu também acho mesmo que não há nada mais castrador e triste do que os consensos. Irritam-me. E para mal dos nossos pecados tenho a nítida sensação de que anda meio mundo atrás deles.

anarcas de todos os países, uni-vos!

terça-feira, setembro 08, 2009 10:47:00 da tarde  

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