quinta-feira, julho 02, 2009

Uma leitura menos eufórica sobre o resultado das eleições

Mais comentário menos comentário, foi esta a leitura dos resultados das Europeias/2009:
  • PSD teve uma grande vitória;
  • PS teve uma grande derrota;
  • BE teve uma grande vitória;
  • CDU teve uma grande vitória;
  • PP teve uma grande vitória.

A minha análise é um pouco diferente, digamos menos exuberante:

  • O PSD pode cantar vitória por ficar à frente do PS, mas convenhamos, 31% de votos representa o eleitorado «normal» do PSD. Ou seja, o PSD não ganhou votos ao seu mais directo adversário, nem conquistou o «Centrão»;
  • O PS tem muito trabalhinho a fazer: recuperar de 26% para 46/48% para ter maioria vai exigir muito arrependimento e voz de cordeiro manso pela parte de Sócrates;
  • O BE saiu vitorioso destas eleições: está em crescendo e atacou o PS da forma correcta - os votos a mais que teve vieram directamente do PS;
  • O PCP manteve seu eleitorado e como não perder votos representa sempre um vitória para aqueles lados...;
  • Se levarmos em linha de conta as sondagens*, o PP teve uma vitória estrondosa. Contudo, ao ficar atrás dos dois partidos de extrema esquerda, leva-me a pensar que o voto de protesto (que normalmente se transfere dos partidos do centro para os partidos com convicções ideológicas mais acentuadas), podia ter sido melhor aproveitado pelo PP;
  • O grosso da abstenção situa-se no centro. PS e PSD têm de conquistar estes 20-30% de votantes que não ligaram muito ao conselho do Presidente e foram trabalhar para o bronze no dia das eleições. Porque, normalmente, a votação conjunta nestes partidos representa 70 a 80% do eleitorado e nestas eleições tiveram 50%...Portanto, se é verdade que o PS tem muito trabalho a fazer, a tarefa do PSD, se não quiser ser um partido com votações na casa dos 30-35% (o seu eleitorado «normal») também não se afigura fácil;
  • * Uma palavra para as sondagens que davam como certo o desaparecimento do PP: o mal destas sondagens não está no método científico que utilizam, porque ele é igual para todos os partidos, e não se podem fazer cálculos diferentes para percentagens, margens de erro e desvio padrão de dados de uma mesma amostra. O mal é que estas empresas têm uma noção muito pouco correcta da «amostra representativa da população portuguesa», enchendo estas amostras de cidadãos que trabalham nos serviços nas duas grandes cidades (por isso partidos como o BE, que têm um eleitorado mais urbano, aparecem sempre bem colocados nas sondagens, esquecendo o agricultor minhoto ou o mineiro de Aljustrel, que, embora em menor número, são votantes mais assíduos). Quem estudou Estatística, sabe que calcular estes conceitos (desvios, margens, etc) é bastante fácil: uma simples folha de cálculo faz isso; o que é difícil é encontrar uma amostra que represente, com a máxima fidelidade possível, a população que se quer estudar. Isso engloba não só a Estatística, mas também estudos sociológicos e comportamentais profundos da população. Que custam dinheiro, muito dinheiro para uma filosofia de minimização de custo.

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4 Comments:

Blogger Vera Carvalho said...

Este comentário foi removido pelo autor.

quinta-feira, julho 02, 2009 9:23:00 da manhã  
Blogger VeraC said...

Finalmente uma leitura sem preconceitos ideológicos das eleições. A parte final é excelente.

quinta-feira, julho 02, 2009 9:25:00 da manhã  
Anonymous André Carvalho said...

Bem-vindo Carlos :) Concordo na generalidade com a tua análise, mas tendo em conta a elevada abstenção e tratando-se de uma eleição “secundária” (mais sensível ao voto de protesto), parece-me evidente os partidos mais pequenos (BE, PCP e CDS) tiveram a sua votação algo inflacionada. Não creio que BE consiga repetir a proeza nem nas autárquicas nem nas legislativas – e espero que as europeias tenham sido o ‘canto do cisne’ do BE. O PCP terá algumas possibilidades de repetir o feito nas autárquicas – faz parte da tradição. E o CDS só poderá repetir a proeza se o PSD se mostrar de tal forma forte nas sondagens que uma percentagem substancial do habitual voto útil da direita no PSD se sinta com suficiente à-vontade de retornar ao CDS/PP.
Abraço

quinta-feira, julho 02, 2009 11:16:00 da manhã  
Blogger Carlos Malmoro said...

Nancy,
pensava eu que a parte mais arriscada deste post era falar em conceitos técnicos de Estatística, mas afinal parece que houve quem gostasse ;)

André,
posso garantir-te que quando falei nos mineiros de Aljustrel não tinha nenhuma informação privilegiada de que as pirites iriam fazer cair um ministro. Mas já agora, e aproveitando este dom involuntário de previsão, vamos ficar a aguardar que os agricultores minhotos façam cair o minitro da agricultura...ou outro qualquer.

Bjs e abraço

sexta-feira, julho 03, 2009 9:46:00 da manhã  

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