terça-feira, outubro 14, 2008

Subprime na Educação

A crise que estamos a atravessar teve a sua génese, entre outras coisas, na "distribuição" de crédito a pessoas que não tinham rendimentos para os pagarem, feita por "responsáveis" analistas de risco que recebiam prémios proporcionalmente ao número de créditos concedidos. Parece que a coisa foi estanque este fim de semana com a atribuição de uns valentes 1.3 triliões ao mercado.
Por incrível que pareça, esta burrice tem um dos seus mais conseguidos paralelismos na educação. Atribuem-se notas a quem não tem saber para isso, as famílias rejubilam com a entrada dos filhos na universidade, como com os créditos que lhes venderam a taxas pornográficas, e os professores - já faltou mais - são promovidos pelo número de aprovações que concedem e não pela sua qualidade ou excelência. Para terminar em beleza o paralelismo, resta acrescentar que no ensino superior não se passa pelo número de cadeiras ou disciplinas aprovadas, mas por um sistema de... créditos.
Isto é a caldeirada que se está a preparar. Na presente crise, houve bancos que faliram pessoas que ficaram sem casas, um país na bancarrota, taxas de juro a bater recordes e mais uma série de consequências por todos conhecidas. No entanto, na outra crise que penso que advirá de uma tamanha irresponsabilidade na educação, consequências muito mais gravosas se esperam. Até porque os biliões nunca transformarão um analfabeto com licenciatura num cidadão competente num fim de semana.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A alegada "atribuição de notas a quem não tem saber para isso", é uma questão introduzida só este ano. Mas as questões que afligem o sistema de ensino não são de hoje. É redutor e simplificador estar a insistir nisto, como se esse fosse o único mal do sistema.

Então, e o insucesso escolar, o abandono escolar, a iliteracia?
O atrazo crónico do nosso tecido económico? As deficiências em ciência e suas aplicações?

Se níveis bons dos indicadores mencionados dependem da qualificação da população, porque que é que o nível geral de conhecimentos continua baixo?

Há uma questão que tem sido discutida que é a indisciplina dos alunos e o papel dos pais.

Não há muito tempo, a indisciplina impunha-se com repressão. Hoje, a disciplina deve ser imposta com persuasão, isto é, o aluno tem que ser disciplinado com exposições argumentadas, que foquem as vantagens do comportamento disciplinado e as desvantagens dum comportamento indisciplinado.

Não se consegue discernir, que a maior parte dos pais tenha capacidade argumentativa. Porque educar também exige conhecimentos especializados. Os pais têm uma profissão que não é de educador. Há mesmo pais que têm qualificações inferiores à dos filhos.
Há até um caso, narrado na televisão, em que se ouve o Presidente da Comissão Executiva duma escola a dizer que ele assumiu como missão da sua escola educar os alunos e os pais dos alunos. Ele tem razão.

Há uma questão. A educação, isto é, o modo como como nos comportamos na relação com os outros, deve ter uma disciplina própria ou deve ser ensinada em conjunto com os saberes curriculares? É lógico que haja uma disciplina própria. Mas também é aceitável que ao mesmo tempo que se transmitem conhecimentos curriculares, também se transmitam saberes de convivência social.

Recordando o episódio Carolina Michaelis, um professor, que é a autoridade absoluta na sala de aula, tem que ter a qualidade intrínseca para disciplinar o ambiente em que se desenrola a sua acção.
O DN relatou uma conversa havida entre o jornalista e alunos da turma, que disseram que o episódio ocorreu na sequência da repetição duma prova de um aluno, porque a anterior prova tinha sido extraviada pela professora. E os outros alunos estavam sem fazer nada. É evidente que os outros alunos deviam ser dispensados.

A questão dos professores serem responsabilizados pelos resultados dos alunos:

Se os profs não são responsabilizados, se eles são metidos todos no mesmo saco, então eles não se diferenciam, uns não ensinam melhor que os outros, o que convenhamos é um absurdo. Ninguém é igual a qualquer outro. Há sempre quem seja mais eficaz que outros. E isso tem correspondência no aproveitamento. É impossível que não tenha.

Por exemplo, a mesma turma, no mesmo ano, os mesmos alunos:

O prof A não dá qualquer chumbo.
O prof B dá chumbos de 10%.
O prof C chumba entre 20 e 40%.
O prof D chumba entre 50 e 80%.
E há um prof E que dá chumbos a partir de 90%.

Este caso não é inventado, é verdadeiro.
É no ensino superior, mas é verdadeiro.
E ocorria sistematicamente. Ano após ano. O mesmo padrão de comportamento.
As matérias eram mais exigentes no caso de maior % de chumbos?

As regras de comunicação ensinam que quando uma matéria é pouco familiar ao receptor da mensagem, o emissor deve utilizar a redundância suficiente para que a mensagem seja apreendida eficazmente(John Fiske, Introdução ao Estudo da Comunicação, ed. ASA, pags. 19 a 39). Se a matéria é mais difícil o prof tem obrigação de detalhar o necessário para que a apreensão da matéria seja eficaz.

Hoje, já chega!

quarta-feira, outubro 15, 2008 1:24:00 da manhã  

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