terça-feira, outubro 28, 2008

Dos despojos da vida


A minha outra costela de costureira tinha de se revelar, mais tarde ou mais cedo.

Estava eu no meu atelier - até à semana passada, chamava-se escritório -, muito entretida a virar as alças dos meus novos sacos, quando algo do lado de lá da janela me chamou a atenção. Uma das vizinhas da frente dispunha, ao longo do passeio, objectos de que se queria desfazer: um computador, duas colunas, um monitor, uma mala cromada, um carrinho de arrumações sobre rodas, uma torradeira. Tudo em avançado estado de utilização. Finda a disposição, voltou para casa e fechou a porta.

Acto contínuo, passou uma ciclista de mochila às costas e cachecol a enforcar-lhe o pescoço (já mencionei que por aqui o frio já ataca em pleno?). Mãos nos travões, a rapariga saltou da bicicleta e dirigiu-se ao monte de lixo que a outra acabara de patentear.

Neste momento, fiz uma pausa no que estava a fazer (é assim que começam os atrasos nas empreitadas). Mas que raio é que poderia haver ali que interessasse à mulher? Os carros estacionados estavam com certeza a tapar-me a vista para algum tesouro.

Mas não! Ela estava mesmo interessada era na mala cromada. Levantou-a, abriu-a, espreitou lá para dentro, fechou-a e, depois de a amarrar com um elástico à bicicleta, lá foi à sua vida. E eu à minha.

Mas fiquei a pensar. É engraçado como o lixo de uns faz a felicidade de outros. E pensei mais além. E isto também acontece com as 'pessoas-lixo' de alguém.

Para o que havia de me dar!
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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ò Carlota, não fosse esse "lixo" e eu em Bruxelas não teria mobília no meu kot.

E digo mais, acho uma excelente forma de reciclar objectos. Reutilizar, vá la.

terça-feira, outubro 28, 2008 4:01:00 da tarde  
Blogger Leonor said...

E deu-te muito bem. A observação do quotidiano tem-me rendido muitas letras. Adorei :-)

terça-feira, outubro 28, 2008 8:19:00 da tarde  
Blogger Carlota said...

Olha, Claudette, eu sou mais, não fosse o Ikea e ainda se viam muitas paredes cá em casa!

Obrigada, Leonor. Este pequeno texto, no entanto, contraria a minha teoria de que se eu ficar sossegada em casa não tenho assunto para escrever... Afinal, posso sempre espreitar pela janela.

terça-feira, outubro 28, 2008 9:53:00 da tarde  
Blogger Nuno Góis said...

Sem mais.

quarta-feira, outubro 29, 2008 2:40:00 da manhã  

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