sexta-feira, outubro 03, 2008

Bloom e Shakespeare

Estou neste momento a ler a edição brasileira da obra Onde encontrar a sabedoria? de Harold Bloom.
Possuo algumas obras deste crítico literário norte-americano* e sinto sempre um enorme prazer em ler os seus escritos sobre literatura, particularmente sobre um autor cuja importância Universal ambos compartilhamos. Tal como Bloom, considero não existirem páginas tão literariamente relevantes como as de algumas das peças de Shakespeare.
Em quase todas as obras que já li de Bloom, são comuns as suas posições contra as ideologias e a tentativa destas de invadirem o campo literário com jargões “correctos” acerca do que se deve julgar boa e má literatura.
Pressuponho que para Bloom não seja digno de análise literária o machismo inerente ao “Amansador da Fera”, versão da Campo das Letras. Ainda me lembro da última vez que li esta comédia, e dos meus esforços involuntários para não expandir gargalhadas que insistiam em saltar-me pelos olhos. O meu esforço na altura foi o de esconder o que estava a ler, pois temi a investida de alguma feminista mais afoita, que assim incomodaria o meu gozo literário a bordo do voo número não sei quantos e cujo destino era algures no deserto.
A literatura que se impõe está para além das ideologias e das modas sociais dos tempos. Contudo é óbvio que nenhuma mulher que eu conheço, poderá ignorar e dar graças às lutas que travaram as suas antepassadas feministas. A mulher de hoje, a forma como se movimenta na sociedade, a “igualdade” conquistada é devedora de determinadas actuações mais radicais e seria pouco generoso ignorar tal facto.
Daí que compreenda e até concorde com Bloom na essência, efectivamente Shakespeare e a sua importância estético-literária não poderá ser posta em causa no presente, devido a determinadas normas sociais que vigoraram no seu tempo e do qual ele é, obviamente, porta-voz. Até porque não nos deveremos esquecer que estaríamos a avaliar a mentalidade de alguém do século XVII, um facto evidente e que se traduz numa desvantagem temporal.

*É certo que com estas palavras não se pretende ignorar o seguinte: o Cânone Literário de Harold Bloom é muito discutível.

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