segunda-feira, setembro 22, 2008

'Em que posso ser útil' versus 'Lá vem mais um, irra!'

Não há nada pior do que precisar de um qualquer serviço público e perceber que em Portugal o tão falado choque tecnológico devia ser transformado num outro choque, num choque social que transforme os energúmenos que estão atrás de um balcão de atendimento público em pessoas bem educadas, solícitas e cientes de que o trabalho que executam é importante.
Sendo o Estado o primeiro culpado desta situação pelos anos consecutivos de abandono a que os votou, existe outra parte bem importante que já começa e acaba no carácter de cada um. Há alguma Lei que proíba um funcionário de uma qualquer Repartição de Finanças de esboçar um sorriso ao desgraçado que ali vai tratar do seu problema, seja ele qual for? Há alguma Lei que obrigue os funcionários dos Tribunais a chamar as testemunhas de um caso para a sala de audiência como se fossem elas as arguidas? Há alguma Lei que obrigue o funcionário de um Cartório Notarial a bufar enraivecido quando tem de se levantar de uma cadeira e andar dois metros para ir buscar um impresso para dar a alguém que dele precisa?
Num ponto, pelo menos, concordo com a avaliação dos funcionários públicos: chega de colocar pessoas a falar com outras pessoas quando essas pessoas não querem falar com pessoas. Chega de ter funcionários públicos a quem a execução de uma qualquer tarefa parece pesar um mundo inteiro, mesmo que essa tarefa não tenha nada a ver com o funcionário público em questão, nem sequer com um qualquer seu primo em décimo oitavo grau, sendo ainda assim importante para o desgraçado que precisa de um papel, documento, certidão ou afins.
Um dia destes as pessoas que estão atrás de balcões vão perceber que algo de nefasto para as suas carreiras está a acontecer: nos dias que já correm é mais fácil ‘falar’ com uma página na Internet, pagar as contas pela Internet, entregar declarações e impostos pela Internet, ou seja, em geral as pessoas começam a escolher a máquina fria e sem sentimentos que é um computador, a um ser humano carrancudo e maldisposto. O que não abona nada a favor dos funcionários de serviços públicos em geral.

P.S. Devo esclarecer que os funcionários públicos não são todos uns energúmenos maldispostos. No entanto, conheço uns quantos a quem esta carapuça serve na perfeição.

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