quarta-feira, julho 16, 2008

Mitos e crenças heterossexuais

A encontra B, B em depressão, A ouve calmamente.

ou

A entra em conflito permanente com B, C, D, E, …, razões mais plausíveis: mudanças de prioridades, solicitações de ajuda técnica entre outras…

A mitologia feminina e masculina é extraordinariamente rica e diversificada, felizmente. A sociedade Ocidental sempre ousou atribuir papéis irreverentes tanto aos homens como às mulheres. Ao longo dos tempos assistimos à assumpção de um papel cada vez mais tradicionalmente masculino, pelas mulheres, e vice-versa, pelos homens.

É comum assistirmos a conversas entre A e B cujo conteúdo é o seguinte:

“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.”

Carlos Drummond de Andrade, Quadrilha

Ou

“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.”

Ou ainda

“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”

Manuel Bandeira, Sem Título e Poética

O segundo poema de Manuel Bandeira é utilizado pelo elemento A, defensor do acordo ortográfico e B contra-argumentando com um poeta clássico ou com a exemplar literacia dos ingleses e a sua Bíblia canónica.

A mitologia atribui um papel agressivo, competitivo e instrumental à mulher e um papel assertivo, compreensivo e pouco agressivo ao homem. A mulher racionaliza, o homem fala demais.

Reside aí a sua especial apetência por homens e mulheres contrários, é que tanto uns como outros são… mais mitológicos.

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