Cinco anos mais perto
A 29 de Julho de 2003, lá decidi publicar aquilo. O texto já estava escrito. Naquela altura o pudor em mostrar o que escrevia era tanto que primeiro alinhavava as ideias no papel, depois passava no Word e finalmente é que copiava o texto para o blogger. Mais tarde, passei a escrever só no processador de texto e depois publicava o post. Causava-me calafrios a ideia de a gramática ser atropelada por causa da pressa. Com o hábito, comecei a escrever e publicar directamente no blogger. E admito que com essa nova e mais apressada forma de postar o Português tenha sofrido.
Há 5 anos a blogosfera em Portugal dava os primeiros passos. Quem começou por essa altura, sabe que o blogger não permitia caixas de comentários, sabe que quase era necessário ser programador para colocar imagens e que só um técnico especializado em templates sabia fazer um link ou uma barra lateral com as preferências [blog roll]. No entanto, eu já apanhei a vaga de crescimento do blogger: em menos de um ano tornou-se fácil fazer tudo isso. Consequentemente, a aparência dos blogs uniformizou-se.
Os media tradicionais reagiram com desconfiança ao advento da blogosfera. Pedro Rolo Duarte dizia ser contra os colunistas, como por exemplo Pedro Mexia que na altura mantinha o Dicionário do Diabo, que tinham espaços na imprensa escrita e que abriam blogs, retirando «audiência» às outras vozes que não tinham acesso aos jornais como autores. Essa foi uma das maiores polémicas da blogosfera, sendo que não tinha nenhum motivo para sê-lo, uma vez que PRD não disse mal da blogosfera em si. Mais tarde foi a vez de Vasco Pulido Valente escrever uma crónica sobre blogs. Primeiro, ao seu estilo, ou seja, que éramos todos uns miseráveis, mais tarde a enamorar-se pelo encanto destes bichinhos até abrir um estaminé. A tendência foi sendo cada vez mais esta: a aceitação de um fenómeno que veio para ficar, sendo que aqui a democratização do espaço não significou a possibilidade de acesso dos menos ouvidos ao blogger, estes já tinham o seu espaço na blogosfera, mas antes a crescente apetência que os opinion-makers, políticos e gente com mais poder público mostraram por criar um espaço destes.
Cinco anos depois sei apenas alguma coisa sobre blogs: a principal razão para alguém carregar no botão «publicar» pela primeira vez é criar algo diferente. Esta á para mim a maior das virtudes dos blogs. Se é verdade que os blogs também ajudam a manter hábitos de escrita regulares, o tentar fazer diferente preside a todas as motivações. Outra coisa que os blogs proporcionam é um conhecimento cultural mais vasto: já comprei discos de bandas que o André meteu no videopost a rodar, já li livros de autores que não conhecia até, por exemplo, a Leonor e a Vera terem copiado excertos deles aqui para o GR. Sei mais sobre música, livros, quadros, filmes hoje do que sabia há cinco anos, não só, mas também por causa da blogosfera. E acima de tudo as pessoas.
A blogosfera faz-nos ficar mais perto das pessoas. Travamos conhecimentos, entramos e polémicas, fazemos jantares, desburocratizamos relações, mandamos vir livros de uma cidade que um amigo vai visitar, o gestor fala com o filósofo, o cronista com a professora. Até agora foram cinco anos a escrever. Foram cinco anos a ficar mais perto das pessoas.
A quem me acompanha na viagem, o meu sentido obrigado pela companhia. Bem-hajam.
Etiquetas: Cinco anos
12 Comments:
Parabéns, Carlos! É um prazer e um privilégio blogoprivar contigo.
E porque hoje é uma dia especial até te perdoo essa perdição que tens pelo Leonard Cohen :-)
um
Muitos parabéns Carlos! Venham mais cinco de uma assentada que eu pago já (vénia ao Zeca Afonso).
P.S. - Essa coisa de gostares do Leonard Cohen é a confirmação absoluta de uma velha máxima: 'Ninguém é perfeito'. ;)
Parabéns!
E assino por baixo os dois últimos parágrafos.
Estou a ver que não aprendeste nada comigo... Sinto-me discriminada! O que te vale é que fazes anos... e muitos!... e eu prezo muito os nossos velhinhos! =D
Eu sou uma mera herdeira de todo esse processo de crescimento de que falas. Não tenho de saber html, não tenho de saber decorar a casa, nem sequer tenho de saber criar um blog - vantagens de ser uma intrusa em casa alheia e em tempo de código simplificado.
Não assisti a esse período de desconfinça/rendição... Para mim a blogosfera foi já uma menina grande, muito senhora do seu nariz.
Também vou carregando (eventualmente!) no botão «publicar» e, sim, concordo que o «diferente» seja a grande motivação.
Finalmente, ainda que possa concordar contigo, eu diria antes que «A blogosfera faz-nos ficar mais perto»... das ideias! A blogosfera é precisamente um meio de poder aproximar ideias sem a necessidade de aproximar pessoas. Até pode chegar às pessoas, mas não de forma primordial.
Mas isto sou eu a falar... com o devido respeito pelo velhinho cá do sítio! ;)
Parabéns e que venham mais.
Beijos
Parabéns, Carlos! Já vi que nisto fazes parte do clube dos séniores (eh, eh, eh...)
Não tinha ideia de que há cinco anos a blogosfera fosse assim.
Eu, que te acompanho na viagem desde antes do GR, é que te agradeço a companhia.
Bom dia Carlos, concordo plenamente com o "sumo" da tua mensagem.
Ah, já agora, e só em relação à idade blogosférica devemos ter mais ou menos da mesma idade ;)
Leonor,
Obrigado pela parte que me toca. Quanto a LC, um dia vais pedir-me emprestado todos os CDs e todos os livros que tenho dele. Dizem que ele é deprimente? Olha um verso «depressivo» dele:
«A razão para eu escrever é tentar fazer algo tão belo como tu.» ? (resulta melhor em inglês) :)
Beijocas
Hélder,
Obrigado pela felicitações. Quanto à imperfeição, junta-lhe Cave e «One» dos Metallica :)
Abraço
Claudette,
Obrigado.
Cristina,
De uma assentada rebato dois argumentos teus: és a única pessoa que, com gosto, leio quando escreve sobre dança. Tens humor e não estás sempre a falar da «falta de apoios para o sector» :). Por isso, é lógico que também me acompanhas na viagem e, consequentemente, a blogosfera aproxima as pessoas, caso contrário não lia as ideias de ninguém sobre dança. (Já agora quando tomamos um café no majestic?)
Beijocas
Pitucha,
Tens reservado um espaço muito grande dentro da minha memória blogosférica e quero que saibas que eu, embora não comente tão assiduamente na tua "casa", não é por isso que a deixo de visitar.
Bem hajas
Beijocas
Carlota,
É sempre um gosto ter a tua companhia na «jornada» (ando muito bíblico :))
E sim, de facto, há cinco anos o que era díficil era fazer «publish» e aquilo sair no sítio certo e com a configuração certa :)
Obrigada pela companhia.
Beijocas
Vera,
Bons dias. Naquela altura publicar um post era mesmo um acontecimento, não era?
Obrigado pela companhia,
E hoje, se me permites, também te envio umas beijocas :))
5 anos!?!
Parabéns Carlos Malmoro!
Obrigado, Sinapse.
Beijocas
talvez assim um bocadinho atrasada, mas aqui ficam os parabéns pelos 5 anos de escritas...e quanto ao nosso amigo comum, the Golden Voice, espero que continues a brindar quem cá passa com este Poeta...
tomo a liberdade:
"Ah. Eso.
Eso era lo que me preocupaba
esta mañana:
mi deseo ha regresado,
y te vuelvo a desear.
Me estaba yendo muy bien,
estaba por encima de todas las cosas.
Los chicos y las chicas eran hermosos
y yo era un viejo, que amaba a todos.
Y ahora te deseo otra vez,
quiero toda tu atención,
tu ropa interior bajada a toda prisa
colgando todavía de un pie,
y nada en mi mente
mas que estar dentro
del único lugar
que no tiene interior,
ni exterior.
El libro del anhelo
por Leonard Cohen"
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