quarta-feira, maio 28, 2008

Não vou por aí!

Os senhores de Davos vivem "(...) confortavelmente na desordem empresarial, mas receiam a confrontação organizada. Claro que receiam o ressurgimento dos sindicatos, mas ficam pessoalmente muito pouco à vontade, mexendo-se, desviando o olhar, refugiando-se a tirar apontamentos, se forem obrigados a discutir as pessoas, que na sua gíria, 'ficam para trás'. Sabem que a grande maioria dos que trabalham no regime flexível ficam para trás, e, obviamente, lamentam. Mas a flexibilidade que celebram não dá, não pode dar, qualquer orientação para a condução duma vida vulgar. Os novos senhores rejeitam carreiras no velho sentido da palavra, de caminhos que as pessoas podem percorrer; ritmos duradouros e sustentáveis de acção são territórios estranhos.
Pareceu-me, por isso, quando andava a entrar e sair das salas de conferência, dispostas no emaranhado de limusinas e de polícias nas ruas da aldeia montanhosa, que esse regime podia, pelo menos, perder o seu actual controlo da imaginação e dos sentimentos dos que estão por baixo. Aprendi (...) se ocorrer mudança, acontece na base, entre pessoas que falam por necessidade íntima, e não através de levantamentos de massas. O que os programas políticos retêm dessas necessidades íntimas, pura e simplesmente não sei. Mas sei que um regime que não dá aos seres humanos razões profundas para cuidarem uns dos outros não pode manter por muito tempo a sua legitimidade." p. 225

SENNETT, Richard (2007). A Corrosão do Carácter. Lisboa: Terramar.

Os argumentos dos defensores do estado mínimo são colectivamente inovadores:
- para sobrevivermos temos de nos adaptar;
- não podemos continuar a manter o estado-providência, o estado não pode cuidar de todos os elementos da sociedade, só dos mais fracos;
- os grupos económicos têm de ser competitivos daí que se deva liberalizar os mercados, em nome da globalização, flutuação dos mercados, da garantia da competitividade.

Contudo os defensores do estado-mínimo em todas as áreas que possam gerar lucros: saúde, educação, etc, ainda não nos explicaram porque é que nos querem convencer de algo que já deu mostras de insanidade nos EUA e na Inglaterra.

Thatcher entrou e desmantelou o estado-providência e saiu com uma taxa de desemprego assustadora, privatizou a área da saúde e o que se vê é que o estado e os utentes não ganharam nada com isso. O estado não poupou e os utentes desvaforecidos não estão bem servidos. Nos EUA a "empresarialização" da educação é uma realidade, mas não consta nas tão aclamadas taxas disto e daquilo, estudos daqueloutro, que os americanos sejam uma mostra particular de sucesso educativo.

Por isso não me venham cá com conversas acerca das virtudes do estado mínimo e da inevitabilidade da mudança e do imperativo categórico do determinismo tecnológico. Neste ponto estou absolutamente de acordo com Sennett uma sociedade que perde os laços de solidariedade e bem-estar colectivo não é uma sociedade humana é o salve-se quem poder e eu não vou por aí!


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