quarta-feira, maio 14, 2008

Filhos de um Deus menor

Tracemos aqui um paralelo entre dois factos.

Facto 1 – A Junta de Freguesia da Ericeira foi multada em cerca de sete mil euros por andar, à socapa [dizem eles], a produzir biodiesel, lesando assim o Estado nesse valor fundamental para as contas públicas que é o Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP). A autarquia local tentou legalizar a sua situação perante o Ministério das Finanças mas não pode: a quota de produção de biodiesel para Pequenos Produtores está, alegadamente, esgotada. Fica a multa e os juros de mora a serem pagos pela Ericeira por tentarem fazer algo pelo Ambiente.

Facto 2 – O primeiro-ministro José Sócrates fuma num avião que o leva de Lisboa a Caracas (Venezuela) - ele e mais uns quantos elementos da comitiva. Um jornalista vê a situação faz o seu trabalho, reporta a elementar ilegalidade cometida ao seu jornal. A onda de indignação que se levanta depois das ondas de choque erguidas pela pérola jornalística obrigam Sócrates a pedir desculpa aos portugueses pela polémica, alegando desconhecer que era proibido fumar, até porque, afirma, sempre o terá feito nestes voos e sem qualquer problema.

Moral da História: No caso da Ericeira, o autarca fez o que podia para legalizar o que estava a fazer mas não deixam. É multado por estar a ajudar a sua freguesia a ficar mais livre dos materiais nocivos e que, anteriormente, eram metidos na sanita. A aventura ambiental tem, para já, um custo de sete mil euros mais uns trocos, já que as alegações feitas não serviram para nada e a multa mantém-se.
No caso do voo entre Lisboa e Caracas, fica a história do bufo (se outro jornalista fez notícia com isto avisem-me, procurei mas só encontrei notícias que tinham como fonte o jornalista do Público). Fica também a voz de José Sócrates a pedir desculpa e, pasme-se, a prometer que vai deixar de fumar (baixe mas é o ISP e fume à vontade, digo eu). Mas Sócrates alega sobretudo o desconhecimento da Lei, alega que não sabia que fumar a bordo de um avião poderia ser ilegal. Joaquim Casado também alegou a mesma coisa para a sua situação, e mais, tentou legalizar a sua ideia. Sócrates será certamente perdoado, coitado, não sabia. Casado continua com a multa para pagar e à espera que alguém lhe diga como é que pode fazer alguma coisa pelo ambiente, pelo seu país e pelo planeta Terra. Tem o azar de não fumar, de não ser primeiro-ministro, de apenas querer reciclar óleo de fritar usado para usar como combustível alternativo aos fósseis e menos poluente.

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2 Comments:

Blogger Peter of Pan said...

Muito bem!

quinta-feira, maio 15, 2008 4:58:00 da tarde  
Blogger Antero de Quental said...

Ver o segundo comentário de Antero de Quental, na opinião do Dr. António José Seguro, no jornal o Expresso, em:
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/310373

sexta-feira, maio 16, 2008 12:13:00 da manhã  

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