quarta-feira, março 05, 2008

Sábado*, eu vou manifestar-me!

Após a II GG vigorou na educação uma corrente muito interessante para qualquer ser humano. Alguns teóricos defenderam uma educação crítica, libertadora, política, contribuindo para a formação de homens e mulheres livres da influência da barbárie.
Esta posição fazia todo o sentido, pois vencera-se uma guerra contra um louco e dois chefes de fila.
A necessidade de educar homens de pensamento livre estabeleceu-se, principalmente, após o Maio de 69, e ganhou forma no relatório da UNESCO de Edgar Faure, uma obra marcante para os apaixonados da educação: "Aprender a Ser". A obra de Faure faz parte do cânone literário da educação, o que ali se defende é uma determinada educação: a educação que tem em vista criar um homem melhor.
Poderiam invocar-se milhentas razões para a sua não aplicabilidade, a mais evidente é a política ter sido tomada de assalto por tecnocratas, homens pragmáticos, cuja visão da educação é a seguinte: as massas apenas precisam de ser educadas para o trabalho, nos entretantos vamos lá iludir os pacóvios dos idealistas com uns cheirinhos de formação cívica, cidadania, direitos do homem, etc, mas as massas são medíocres, não pensam.
Outra das razões e determinante para as contas de merceeiro de alguns políticos pretensamente socialistas é: a educação é uma causa morosa. Não se pode educar as massas de um dia para o outro, assim não se ganham eleições, daí que seja preferível educar algumas das massas e iludir as restantes com taxas de desemprego justificativas da necessidade do "restolho" se educar sob pena de não terem mais lugar no mercado de trabalho.
O mais agradável, no meio de tudo isto, é que grande parte dos desempregados são qualificados.
A Europa criou a necessidade (e pensam que as estatísticas surgem nos jornais por acaso?) de se "educar" o povo português, os políticos, mais uma vez, dizem ámen à Europa, e tratam de "encharcar" a opinião pública com Novas Oportunidades. Esquecem-se do dado anterior: afinal as novas oportunidades são conversa fiada de propaganda política e de honestidade intelectual duvidosa.
Ponto da situação:
-a europa considera que os portugueses são pouco "qualificados";
- o governo português lança programas com metas estapafúrdias;
- alguns portugueses aproveitam a onda e escolarizam-se;
- uma grande parte estão-se simplesmente a borrifar para a conversa dos políticos.
Perguntas:
- se os portugueses são pouco qualificados e com necessidade de se adaptar ao mercado que tipo de adaptação?
- qualificarem-se para as caixas de um hipermercado?
- qualificarem-se para não serem considerados numa selecção de emprego pois são demasiado qualificados?
- afinal pretende-se que os portugueses se qualifiquem, se adaptem ou se eduquem?

Como eu faço parte dos portugueses que já perceberam, há algum tempo, que este governo não tem uma ideia de Portugal, mas uma ideia de subserviência à Europa, eu vou ali manifestar-me e já venho.

* - cozinheira de um restaurante de Coimbra.

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