Amor, a quanto obrigas
A vida humana está em constante evolução. Inúmeras tradições adaptaram-se às novas mentalidades, outras desvaneceram-se, os custos dos casamentos e dos divórcios inflacionaram, os hábitos quotidianos desfiguraram-se, foi descoberto um buraco na camada do ozono, as alterações climáticas passaram a ser um tema corriqueiro e os tempos que correm não se compadecem com desperdícios. Vistas bem as coisas, isto só pode querer dizer que é também preciso alterar os critérios da escolha da nossa cara-metade e ter uma apertada malha na rede que lançamos para a apanhar. Para que a não se extinga a vida no planeta e, no fundo, para um futuro melhor.
O slogan a aplicar a esta nova forma de descobrir o objecto do nosso afecto poderia ser: Querido coração, espera aí que vou ali ter uma conversinha com a razão. Como tudo funcionaria, é o que vou tentar explicar.
Pensamos que encontramos a pessoa certa, não é? É isso, pelo menos, que o coração nos diz. Muito bem. Mas mandemos o dito numa excursão às grutas de Mira de Aire e convoquemos uma reunião com o cérebro.
O(a) mais-que-tudo recila? Apaga as luzes quando já não precisa delas? Pressiona o botão pequeno do autoclismo com regularidade? É a favor do uso das lâmpadas económicas? Não tem qualquer tipo de apego aos sacos de plástico do super-mercado? Está disposto(a) a deslocar-se numa viatura com baixas emissões de dióxido de carbono? Ainda assim, recusaria utilizar os transportes públicos diariamente? Não tem nada contra a compra de mobílias feitas com madeira cujo corte foi certificado como ambientalmente apropriado, socialmente benéfico e economicamente viável? Não se importa de apenas comer o peixinho de cultura sustentável? Pode mesmo passar sem o jaquinzinho? É contra a caça da baleia? Prescinde de todos os produtos com clorofluorcarbonetos? Aprovaria a compra, pelo condomínio, de um painel solar a instalar no telhado do prédio? Está disposto a substituir o ar condicionado pela ventoínha e o aquecimento pelo saquinho de água quente? Alguma vez se atreveria a deitar o óleo alimentar usado pelo cano abaixo?
Ainda que se torne tudo mais complicado do que responder à questão 'É com esta pessoa que quero juntar os trapinhos?', a resposta a muitas destas perguntas poderia ser a chave para celebrarmos, por muitos São Valentins, a escolha do objecto da nossa afeição. Porque o amor, apesar de intenso, é uma coisa frágil, o nosso coração não pode estar em permanente excursão e, vistas bem as coisas, é sabido que o futuro da vida na Terra depende de todos nós.
Como diz o outro, vale a pena pensar nisto.
Agora, se me dão licença, vou mandar o meu CV para aquela vaga de consultora sentimental no Greenpeace.
4 Comments:
Bem visto e bem escrito, claro. Ainda bem que te juntaste a nós :)
lol
Vocês são uns supporters cinco estrelas! ;)
Tu mereces :-)
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