quinta-feira, outubro 18, 2007

Purga em Angola

Ler com atenção a transcrição do livro por Francisco José Viegas. É interessante verificar o quanto um oprimido se torna, muito rapidamente, num opressor ainda mais sanguinário.

Contudo afirmações como:

«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»

irritam-me e revelam má consciência e ressentimento ideológico, o mesmo que rapidamente "cozinharia" procedimentos idênticos.

Como se nos devêssemos contentar com o facto de atrocidades de Pinochet, Che Guevara, Staline, Hitler, serem menores que, na linha contrária ao meu pensamento ideológico.

Qualquer atrocidade realizada em nome de qualquer ideologia é grotesca. Aliás Reinaldo Arenas, segundo a Atlântico, dizia qualquer coisa do género:

A diferença entre o comunismo e o capitalismo é que no primeiro quando te dão um pontapé no cu tens de aplaudir e no segundo podes gritar.

Ainda bem que podemos gritar, mas não nos podemos contentar com quantificações de atrocidades.

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7 Comments:

Blogger recepcionista said...

Um dos maiores problemas, a meu ver, é que, quem lidera esses massacres, sejam eles de esquerda ou de direita, de dentro ou de fora, do fundo ou do cimo, fá-lo sempre em nome de uma causa que ilegitimamente chamou de sua. Depois, até se comparar a Deus e começar a chamar a si a responsabilidade de por e dispor sobre a vida daqueles que considera seus súbditos, é um saltinho.
Isso, quer agrade quer não agrade, chama-se loucura e, o lugar dos loucos é no manicómio, local onde podem declamar incessantemente com as paredes, sem que por isso venha mal ou mundo.
Agora, quando alguém começa a fazer comparações numéricas sobre a maior gravidade ou menor gravidade deste ou daquele morticínio, então posso afirmar que se está a considerar muito próximo de Deus.

sexta-feira, outubro 19, 2007 9:44:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

"Isso, quer agrade quer não agrade, chama-se loucura e, o lugar dos loucos é no manicómio"

E eu que ia pensar (no contexto deste post) que o lugar dos loucos era a blogosfera.

sexta-feira, outubro 19, 2007 10:27:00 da manhã  
Blogger recepcionista said...

O programa de distribuição de computadores levado a cabo pelo governo (de sua majestade) também abrangeu alguns dos ditos, daí ter todo sentido a sua afirmação.

sexta-feira, outubro 19, 2007 12:01:00 da tarde  
Blogger Nelson Reprezas said...

NancyB, ainda que concordando na linha geral com o post, há que considerar que os autores poderiam não estar a fazer comparações quantitativas mas apenas a chamar atenção para o facto de as malfeitorias da direita terem (sempre) um mediatismo de longe superior às da esquerda, mesmo se as da esquerda são de maior dimensão. Senão, reparemos que não deve haver haver cidadão ao cimo da terra que não conheça os massacres de Pinochet e a minha pergunta é: Quem é que sabe ou sabia dos massacres angolanos?
Pode muito bem ser um ponto de vista dos autores do livro.

"...irritam-me e revelam má consciência e ressentimento ideológico, o mesmo que rapidamente "cozinharia" procedimentos idênticos.

Não entendi bem esta asserção, mas se a interpretei bem o que julgo é que as coisas se passam exactamente ao contrário. O ressentimento ideológico aflora sempre que a esquerda é exposta nas suas fraquezas e hipocrisias. Mas pode ser que eu tenha interpretado mal a frase.
Parabéns pelo blog que deve ser o blog colectivo da Blogos com mais equitativa distribuição e regularidade da colaboração de todos vós.

sexta-feira, outubro 19, 2007 9:55:00 da tarde  
Blogger ana v. said...

"Qualquer atrocidade realizada em nome de qualquer ideologia é grotesca."

Com isto, concordo em absoluto. Sem concessões quantitativas.

sábado, outubro 20, 2007 1:40:00 da tarde  
Blogger cristina said...

Eu, nestas coisas de políticas e ideologias, falo sempre um bocado a medo, sentindo-me profundamente ignorante... Mas cá vai.

Duas observações gerais:
- os critérios de quantificação são sempre questionáveis
- haver pior não é desculpa para o mau.

No entanto, quando o que acreditas degenera para algo que não aprovas, aquilo a que chamas «ressentimento ideológico» [venha ele da esquerda ou da direita!] parece-me bastante natural... Não digo que seja a atitude mais correcta, mas parece-me a mais natural, na tentativa (mais ou menos consciente) de salvar alguma coerência ideológica...

Que se lixem as idelogias! E analisem-se os actos por si próprios... - dir-me-ás tu. Certo! Mas só não me parecem irritar tão solenemente essas pseudo-comparações quantitativas; até porque é muitas vezes por aí que muita coisa vem ao de cima...

sábado, outubro 20, 2007 5:35:00 da tarde  
Blogger VeraC said...

Nada a acrescentar em relação às excelentes colaborações de todos, não pretendo que concordem comigo, aliás os argumentos devem mesmo é discutir-se.
Só alguns reparos:
Concordo com a primeira afirmação de «Espumante» e penso que foi esse o ponto de vista que se pretendeu incutir: comparar as atrocidades cometidas pela esquerda e que ainda são "olhadas" com benevolência, apesar de muitas delas serem, em termos quantitativos, bem mais atrozes do que as de direita. Mas, apesar de poder compreender teoricamente esse argumento tal não me consola absolutamente nada, nem faz justiça às vítimas.
"Ressentimento ideológico", porque tenho graves desconfianças sobre qualquer tipo de análise que exponha um ponto de vista desta forma. Desmontando: no regime de Pinochet a contabilidade de vítimas é tal, no do MPLA é muito mais. Nós, que somos de direita, analisamos as prestações de um regime de esquerda e verificámos: as vítimas são em número bastante superior, daí que o regime do MPLA tenha sido bem mais atroz para a população em geral. A pergunta que me surge de imediato é: e quem descreve isto desta maneira contentar-se-ia com um número de atrocidades em número menor do que o de Pinochet cometidos em nome da direita?
Daí o argumento me irritar. Como pode haver consolo em qualquer tipo de contabilização de atrocidades? Também concordo com a Cristina, e vou um bocadinho mais além, efectivamente há um trabalho de análise a fazer às atrocidades cometidas pela esquerda, até para a "meter" na ordem e "obrigá-la" a questionar os seus "ídolos", mas não é por aqui.

domingo, outubro 21, 2007 10:17:00 da manhã  

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