sábado, setembro 08, 2007

Dos manuais escolares

Eis que chega um novo ano lectivo e com ele, entre outras preocupações, as despesas impensáveis em material escolar e, acima de tudo, em manuais escolares, supostos auxiliares e facilitadores da arte de ensinar. No “Público” de hoje, Vasco Teixeira, coordenador da comissão do livro escolar da Apel, acusa a Ministra da Educação de ter “aversão ao negócio, e, por isso, acha que os editores são empresas que lucram com um negócio que não devia dar lucro: a educação.” Se assim for, só tenho que concordar com Maria de Lurdes Rodrigues. A educação é demasiado séria para ser norteada pelo lucro. Por outro lado, e caso Vasco Teixeira tivesse seguido com atenção a contenda que opõe Maria de Lurdes Rodrigues aos professores perceberia que há uma enorme preocupação em conter custos, portanto, também Maria de Lurdes Rodrigues se preocupa com o lucro para o governo ao fechar escolas, despedir professores e entravar a progressão nas carreiras, independentemente da qualidade do desempenho.
Em relação aos manuais escolares, urge regular, regulamentar, moralizar e qualificar a elaboração e edição dos mesmos. Certamente Vasco Teixeira não concordará, até porque é representante de uma das maiores editoras de manuais escolares, mas existem manuais no mercado que não têm razão de existir e que, caso houvesse rigor, tanto pela parte dos autores como dos editores, não veriam nunca a luz do dia. É certo e sabido que um manual é sempre mas sempre uma leitura e interpretação do programa para o qual foi elaborado, não obstante, e ressalvadas as devidas questões subjectivas inerentes ao processo interpretativo, não há razão alguma para que os manuais tenham erros científicos e pedagógicos e que não apresentem, por exemplo, as fontes e indicações bibliográficas dos textos que contêm. Numa altura em que se defende a autoria e os direitos de autor é inadmissível que manuais escolares que servem também o intuito de educar o não façam ou que apresentem textos redigidos para o objectivo que servem, regra geral, desajustados das realidades dos países alvo, e isto para já não falar nos preconceitos que saltam aqui e ali. Quando se dá como exemplo que uma família normal é constituída por pai, mãe e um filho, que se está a chamar às restantes famílias, tão comuns nos dias de hoje e tão legítimas como essas ditas normais?
É imperioso que se exerça esse controlo de qualidade. Espero apenas que, tal como previsto pelo Ministério da Educação, este controlo passe a ser uma realidade eficaz e que a certificação dos manuais escolares seja séria e competente, se não assistiremos a outra saga tal como o têm sido os exames nacionais de Física e Química.
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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

'A educação é demasiado séria para ser norteada pelo lucro.'

Vou pagar 75 euros por 3 manuais. Estão sempre cheios de erros e muitas vezes falta matéria ( que os professores tem de fornecer a partir do 'seu bolso') que está no programa. Já que pagamos tanto, poderiam ter o minino de qualidade mas não :|

sábado, setembro 08, 2007 6:25:00 da tarde  
Blogger PintoRibeiro said...

Há algo de insultuoso para com o País real na questão dos manuais.
Abraço,

sábado, setembro 08, 2007 6:53:00 da tarde  
Blogger LeonorBarros said...

Tenho uma posição muito radical em relação a esta questão dos manuais. Acho que devia haver uma equipa de profissionais ligados ao ensino, competentes científica e pedagogicamente e isentos. Se continuarem com os amigos dos primos dos tios dos vizinhos não vamos a lado nenhum.
Vai haver proximamente certificação de manuais mas deixei de ter confiança nas instituições. Esperemos para ver o que vai dar.
Bom domingo

domingo, setembro 09, 2007 5:20:00 da tarde  

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