segunda-feira, setembro 17, 2007

Agustina

Tinha intenção de escrever uma mensagem em louvor de Agustina, mas não ouso quebrar um código de etiqueta, são raros os escritores canónicos verdadeiramente considerados no seu tempo.

Agustina será, no futuro, considerada a maior escritora portuguesa do século XX, e, para tal, pouco acrescentarão um Nobel curricular ou uma mensagem perspicaz escrita num blogue.

Como todos sabemos a obra de um escritor canónico sobrevive à crítica literária e ao "menosprezo" do seu tempo.

Estou prestes a terminar "As Pessoas Felizes", foi o primeiro livro que li de Agustina, seguir-se-ão outros, mas nenhum terá o impacto deste.

Agustina é uma escritora forte e extraordinariamente ousada, atreve-se a dialogar com "certas" personagens da história da literatura e da cultura.

Em "As Pessoas Felizes" o diálogo entre Nel, personagem principal, e Karenina, e entre outras personagens e outros nomes culturais famosos, são constantes.

Mas desconfio que, bem no íntimo, Nel pretenda dizer-nos, antecipando toda uma época obcecada pelo seu reverso, que a felicidade é inatingível para quem ouse investir, apenas e só, numa vida interior.

Quem envolva a sua vida apenas em vida interior sujeita a realidade ao pensamento, e, sabemos, o quanto o pensamento precisa de se adaptar à vertente prática da existência.

A ironia dos tempos modernos é meia dúzia de seres humanos recolherem ao seu quefazer e construírem os alicerces de uma sociedade que pouco penitenciaram.

Para o apreço dos seus pares apenas necessitaram do domínio técnico/teórico de um determinado assunto.

O conhecimento técnico/teórico suplantou o prático, nos mais diversos domínios, daí termos ajudado, sorridentemente, a criar uma sociedade de faz de conta.

Vivemos na época do direito, economia, civismo, o socialmente correcto, obcecados pelos direitos, como garantias inalienáveis do bem-estar e felicidade individuais.

Nel surge como um exemplo insolvente do nosso presente e, por isso, prega aos peixes.

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3 Comments:

Blogger Pitucha said...

Nancy
Nunca consegui que a Agustina me prendesse! E tentei. Sei que sou eu que perco, que é uma excelente escritora. Tenho uma boa amiga que gosta imenso dela. Talvez tente o livro que mencionas;
Beijos

segunda-feira, setembro 17, 2007 1:17:00 da tarde  
Blogger LeonorBarros said...

Já somos duas, Pitucha, mas, ao contrário de ti, não tenho pena nenhuma.

segunda-feira, setembro 17, 2007 1:45:00 da tarde  
Blogger menina-m said...

eu não sei se perco, se não perco. só sei que desde que sei ler que me habituei a ler angustina nas lombadas dos livros da senhora. e angustina é talvez o nome mais soturno que pode existir. ainda não curei isso: foi precisamente assim que li o título do teu post...

segunda-feira, setembro 17, 2007 5:16:00 da tarde  

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