Estação pateta
Cara Silly Season,
Portuguesmente falando, és apenas a Época Pateta. O nome inglês soa melhor, a retinir campainhas, a sibilar de assobios, a festa de guizos. Estrila muito mas significa pouco. Não tenho nada contra as guizalhadas, embora não seja um praticante entusiasta. Mas contra as carneiradas, tenho. Cresci numa saudável rebeldia contra o conformismo. Ora tu, Estação Tonta, és o exemplo mais acabado, retinto, e rebaixado desta tirania do banal que põe todos a dançar ao toque da mesma caixa. Sob a tua aura e protecção campeiam os estagiários de jornalismo, os militantes da chalaça, os bobos de ocasião. E vá de perguntinhas, e vá de expedientezinhos, e vá de entreter o pagode que só quer é rir, à torreira do sol, a sacudir a areia do croquete, enquanto as crianças chilreiam na praia. Pobre enfeitada Sazão Foleira, vê se percebes que, apesar do lastro de alarvidade que a tua teimosia quer preservar, já vai havendo muitos cidadãos que não têm pachorra para sandices.
Portuguesmente falando, és apenas a Época Pateta. O nome inglês soa melhor, a retinir campainhas, a sibilar de assobios, a festa de guizos. Estrila muito mas significa pouco. Não tenho nada contra as guizalhadas, embora não seja um praticante entusiasta. Mas contra as carneiradas, tenho. Cresci numa saudável rebeldia contra o conformismo. Ora tu, Estação Tonta, és o exemplo mais acabado, retinto, e rebaixado desta tirania do banal que põe todos a dançar ao toque da mesma caixa. Sob a tua aura e protecção campeiam os estagiários de jornalismo, os militantes da chalaça, os bobos de ocasião. E vá de perguntinhas, e vá de expedientezinhos, e vá de entreter o pagode que só quer é rir, à torreira do sol, a sacudir a areia do croquete, enquanto as crianças chilreiam na praia. Pobre enfeitada Sazão Foleira, vê se percebes que, apesar do lastro de alarvidade que a tua teimosia quer preservar, já vai havendo muitos cidadãos que não têm pachorra para sandices.
Mário de Carvalho in "Visão" nº751, 26 de Julho de 2007
Mário de Carvalho foi recentemente galardoado pelo romance Um Deus passeando na brisa da tarde. Decididamente um dos meus escritores contemporâneos de eleição.
10 Comments:
Leonor,
a pessoa mais inteligente e mais culta que pessoalmente conheço é uma mulher por volta dos cinquenta que todos os dias vê uma telenovela. Um dia perguntei-lhe o porquê tal gosto. Respondeu, entre sorrisos, que também ela tinha direito ao seu momento de «parvoíce» diário. Que a vida não era só Petrarca, Sócrates(o verdadeiro) ou Arte, mas também isto: estar em frente a um televisor, ver caras lindas, com uma estória que não dá que pensar nem pretende mudar o mundo A partir daí, não passei a ver novelas, mas passei a compreender melhor o direito que toda a gente tem a escolher a sua diversão da forma que melhor o entender e não ser criticada por isso... Cito, de cor, Lobo Antunes, numa tertúlia em Viana do Castelo há cerca de dois meses, onde a melhor coisa que ouvi formam muito boas notícias do próprio acerca do seu estado de saúde, e também isto: os escritores portugueses são todos uns chatos. Acham que têm de ser sérios, de ter aquele ar carruncudo como eu tenho, de criticar a sociedade pelos seus costumes, quando, se eu vos dissesse a figurinha que alguns fazem em privado, como eu faço, vocês estoiravam a rir.É um que quando estava a jantar comigo mete a mão direita esticada e, enquanto jantávamos, a mulher apara-llhe as unhas, outro que o apanhei, quando era criança a lamber um gelado e a olhar para uma loja de lingerie de senhora, outro...E não prosseguiu porque, como deves imaginar a sala já estava nas lágrimas com tanto riso...:)
Beijocas
A quem convém o linchamento político de Paulo Portas?...
http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2007/07/o-crepsculo-do-crepsculo-da-moderna.html#links
O Mário de Carvalho é, em minha opinião, tão pouco "reconhecido" porque a escrita dele é cheia de ironia, humor e sarcasmo. Não tem nada de chato, melancólico e soturno. Além disso, tem uma prosa que gosto porque é rotunda, adjectivada e rica, sem os minimalismos que parecem ser a norma mas que são uma grande seca cinzenta.
Já leste alguma coisa dele? Se não, empresto-te :-)
Não, não preciso que me emprestes ;) Vai aqui: http://geracao-rasca.blogspot.com/2006/10/uma-genuna-esperana.html e verás que pensamos o mesmo. Eu referia-me a esta crónica.. E naquilo em que eu não alinho é que pessoas que trabalharam durante um ano inteiro, por vezes sabe-se lá em que condições, não possam escolher o seu divertimento, sem os criticarem por isso.
PS: espero que não tenhas visto qualquer tipo de acrimónia nos comentários. Se viste, isso deveu-se a uma deficiente e apressada escrita dos mesmos ;)
Beijocas
Claro que não! Eu acho que cada um deve passar as férias como entender mas alguma euforia histérica também me incomoda :-)
Já fui ver :-)
Fui reler a crónica. Achas que ele se refere a essa camada da população que se esfalfa a trabalhar? Eu acho que ele se refere mais ao que se faz desta estação e que acaba por modelar também os comportamentos.
Ainda voltando ao primeiro comentário teu, acho que nada ou pouco na vida se excluiu. Irrita-me de sobremaneira que me categorizem pelos meus gostos e que daí tirem conclusões como "se gostas de Saramago, não gostas de Lobo Antunes", por isso compreendo perfeitamente e acho normal que os gostos sejam ecléticos.
O mais engraçado deste diálogo "privado" é aquela intervenção descabida de alguém a querer que vocês vão ler o que escreveu sobre o Paulo Portas. Já me fez rir, mas não me fez ir ao link dos linchamentos políticos.
Ana
Cara Ana
De vez em quando aparece um comentário como o de cima, mas já nos habituámos e continuamos com a conversa e não é privada, pode participar também :-)
Plenamente de acordo.
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