sexta-feira, abril 27, 2007

Memória

E abrindo um parêntesis de duas aulas aos conteúdos programáticos, decidi mostrar aos meus alunos Bowling for Columbine. Por estranho que pareça, colam-se ao ecrã com uma atenção imperturbável, como se o mundo que corre à sua frente se desvelasse e revelasse pela primeiríssima vez. E depois do visionamento e, para que ele surtisse algum efeito, algumas questões para suscitar o debate, a reflexão e, acima de tudo, o sentido crítico e o olhar crítico também sobre o filme. E depois a professora veio para casa e pregou-se ao computador. Colou-se ao ecrã, como os seus alunos, e abraçou o teclado, na procura de um texto sobre o recente massacre de Virginia Tech, de resto, a razão pela qual a mesma professora se lembrara de Bowling for Columbine e o trouxera para a sala de aula. A professora procurou Não, este não e voltou a procurar Como é possível? e continuou Que horror! e não descansou na busca Meu deus! mesmo emudecendo de seguida, e mesmo arrepiada com os acontecimentos, incomodada com os rostos das vítimas, insatisfeita, ainda mais um site. Vou ver aqui. Pode ser que aqui haja alguma coisa interessante… e procurou mais notícias, mais imagens, sim, não podia deixar passar a notícia em vão, seria uma óptima oportunidade para debater com os alunos. Queria textos e notícias que complementassem, consciencializassem, debatessem, criticassem, fizessem reflectir sobre, e a professora continuou, e procurou e revirou a net de fio a pavio sem que os acontecimentos a largassem, os números, as horas, o horror, o pânico, os rostos se evadissem da memória até que a palavra memória se lhe instalou na alma e percebeu que também a memória dos que foram ceifados com os acontecimentos de 16 de Abril passado deve ser deixada em paz e que, para isso, não valia usar textos, imagens, notícias, mesmo que os alunos debatessem, entendessem, discutissem, criticassem.
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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelo texto e por, nos tempos que correm,ter a coragem e abrir um parêntesis no programa e mostrar um dos mais pertinentes documentários da América de "hoje". É bom saber que há professores que deveras se preocupam com a educação.

Professora (des)encantada

sexta-feira, abril 27, 2007 11:17:00 da tarde  
Blogger LeonorBarros said...

Muito obrigada pelas suas palavras.

sexta-feira, abril 27, 2007 11:22:00 da tarde  

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