esse filho só de sangue que te escorre pelas pernas
sou eu. podíamos ter-lhe ensinado as palavras, mas
o seu nome é agora de sangue, podíamos ter-lhe
mostrado o céu, mas o seu olhar é agora de sangue
podíamos ter fechado a sua mão pequena dentro da
nossa, mas a sua mão é agora de sangue, esse filho
só de sangue que te escorre pelas pernas e morre
sou eu, o meu sangue e a minha memória.
sou eu. podíamos ter-lhe ensinado as palavras, mas
o seu nome é agora de sangue, podíamos ter-lhe
mostrado o céu, mas o seu olhar é agora de sangue
podíamos ter fechado a sua mão pequena dentro da
nossa, mas a sua mão é agora de sangue, esse filho
só de sangue que te escorre pelas pernas e morre
sou eu, o meu sangue e a minha memória.
José Luís Peixoto, (2001), A Criança em Ruínas, Edições Quasi.
20 Comments:
Andamos pouco sensasionalistas andamos ...
Agora os fetos também já postam?
Lê com atenção. Não há feto nenhum a falar. Mais perguntas só com o José Luís Peixoto. Este livro é de 2001, não foi escrito agora.
E quem postou fui eu, acho que já estou grande demais para feto.
Luís,
Segundo depreendo, este post não é nenhum auto de fé. A propósito de um dos temas do momento, a Leonor “cingiu-se” a transportar para um post a extraordinária arte poética de José Luís Peixoto.
PS. Se queres dar uns tirinhos, tenho lá em baixo um post com uma cegonha a voar. ;)
Extraordinária arte poética?
Sempre há gente muito generosa...
Exactamente, André. José Luís Peixoto é um dos meus autores preferidos.
Caro anonymous,
Esse ponto de interrogação também é deveras poético.
Fiquei obnubilado pelo tamanho da fonte que o José Luís Peixoto escolheu para o post ... pelos vistos acabei por errar o alvo.
Já estou mais descansado! É que eu, em certos casos, adoro descobrir que estou errado ...
P.S.: Coitada da cegonha ... não tem culpa de nada.
Luís,
O tamanho e a fonte, é somente uma questão estética, e a tua obnubilação já entra no campo da ciência da moralidade.
Sem dúvida bonitas palavras... Quanto ao tema do momento... não vejo a ligação, por acaso o que está em referendo é se existem pessoas que não querem abortar? Ou que se sentem mal com um aborto? A pergunta acaso é: alguma vez faria um aborto? Ou: concorda que a sua mulher, namorada, companheira, aborte? Da última vez que vi não era...
MPR,
Por acaso também não me parece que alguém te esteja a perguntar se vês ligação ou não com o tema do momento [que é tão evidente que chegaste lá num instante].
Por acaso, da última vez que li a pergunta do referendo, essa parte do “concorda que a sua mulher, namorada, companheira, aborte”, única e exclusivamente por sua vontade, até às 10 semanas, em estabelecimento de saúde autorizado, estava lá. Mudaram a pergunta foi?
Luis,
Que eu saiba, ainda sou livre de usar o tipo e tamanho de letra que me der na cabeça, itálicos, bolds, sublinhados ou cores, logo, não vejo qual é a questão.
MPR,
Tal como o tamanho ou tipo de letra, também não vejo qual é a ligação e porque é que tem de haver ligação sequer.
Leonor, não vês a ligação, mas ao que parece há quem veja. André, deves ter lido mal, a pergunta é "concorda que a sua mulher, namorada, companheira, não seja perseguida criminalmente e possa abortar por sua vontade até às 10 semanas em estabelecimento de saúde autorizado. Vês a diferença?
Anonymous said...
Extraordinária arte poética?
Sempre há gente muito generosa...
=D pensei o mesmo...não sei, cansa-me um bocado, o peixoto, sempre às voltas com sangue e ceninhas gore.
O que é evidente é que existe uma ligação temática. O que eu não vejo, outros parecem ver, é uma ligação entre este texto de JLP e a orientação da Leonor [ou mesmo do JLP] face ao tema do momento.
Não sei a orientação do autor, da Leonor parece-me evidente dada a escolha do texto neste momento. Mas pronto, paz, não vale a pena a crispação por um texto que é, questões referendárias à parte, tocante.
Posso estar muito enganado MPR, mas parece-me que está a supor mal a orientação de voto da Leonor.
Se calhar.. supus ser Não. Mas seja qual for, o texto, em si, merece a pena.
André e Leonor:
Eu até acho que a Leonor não é obrigada a revelar o sentido de voto, mas se ela vai votar Sim o texto baralha as pessoas, ou pelo menos baralha-me a mim ...
Quem leu outros textos que aqui publiquei, já terá depreendido qual será o meu voto no dia 11. O facto de publicar aqui o poema do JLP não tem de ser uma declaração de voto, não é mesmo, nem me parece obrigação minha não baralhar as pessoas ou dizer a intenção do meu voto. Parece-me óbvio que o texto aborda uma maternidade/paternidade por realizar, mas não é claro que seja um aborto provocado, que alguém tenha ido a algum lado abortar ou que a IVG esteja aqui em questão. Esse é um das características dos textos literários, em prosa ou poesia, estão cheiinhos de espaços brancos à espera de serem preenchidos por cada leitor.
mpr, ainda bem que concordamos em relação ao poema, não é o meu preferido do JLP mas é um dos que mais toca, de facto. E claro que não vale a pena crispação.
maravilhoso poema.
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