segunda-feira, dezembro 18, 2006

da vida simples

A entrevista de José Mourinho ao semanário Expresso é o tipo de entrevista abundante em pertencentes.

Pertencentes a uma certa pertinência.

E a pertinência é sempre algo que me atrai, é uma espécie de jogo de gato e rato.

Na entrevista Mourinho veicula dois ou três lugares, vulgarmente, comuns:

1 - o futebol é só e apenas uma profissão, como outra qualquer...

2 - a família vem sempre em primeiro lugar

3 - a vida continua tão simples quanto antes

Quanto à primeira são algumas as afirmações de género contrafeito: afinal de tudo esta vida é uma valente chatice, nem sequer posso ir à Eurodisney com os meus filhos sem ser reconhecido, namorar com a minha mulher, num restaurante "simples" e praticar skate e correr à bola, e etc e tal.

Raramente cria ansiedades quanto ao futebol, só os batimentos cardíacos muito próprios.

O futebol anda bem longe de ser uma obsessão já que até pode convidar jornalistas para uma determinada entrevista e estar tranquila e relaxadamente a ver um bom jogo de futebol, o futebol é afinal um hobbie "simples" com o qual ganha "simplesmente" dinheiro.

O futebol é tão infinitamente pouco relevante, a importância dos adversários tão relativa e afinal a sua competência tão evidente.

Qual é a pertinência e importância de estar já a pensar na estratégia do próximo jogo quando se acaba de ganhar uma partida?

Em relação à simplicidade de José Mourinho diria que é uma simplicidade bastante simples.

Talvez uma simplicidade com alguns zeros a mais quanto aos restaurantes "simples".

Talvez um outro tipo de simplicidade relativamente simples e bastante adequada a dirigir um automóvel que afinal o conduz, muito simplesmente.

Talvez e também uma simplicidade suficientemente simples quanto ao outrora Armani e ao actual Zegna (sobretudo).

Possível e igualmente uma simplicidade fugazmente simples quanto à mensalidade dos colégios e da casa em Londres e da casa nos arredores de Londres, etc.

Provavelmente, José Mourinho tem razão!

A simplicidade de uns zeros a mais não tem absolutamente nada a ver com vidas complicadas de zeros a menos.

O chato é que as pessoas simples com vidas complicadas têm a extravagância desagradável de possuírem uma parte pouco importante da solução (simplicidade) e uma desagradavelmente importante do problema (zeros a menos logo complicação).
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