domingo, dezembro 17, 2006

Blogger: promotor da língua portuguesa

Na entrevista que deu à revista «6ª», Miguel Esteves Cardoso afirma que «há blogues fabulosos. Muitíssimo bem escritos. E tens pelo menos uns trinta com um nível superior ao da nossa imprensa». Se isso interessa, estou completamente de acordo com a opinião dele e até acho que há bloggers que escrevem melhor do que certos escritores. Já descontando os «light», que, como muito bem sabemos, são como os cigarros com a mesma denominação: fazem o mesmo mal à saúde e não dão tanto prazer.

Para além disso, penso que a blogoesfera, com todas as suas vicissitudes, contribuiu não só para que surgissem novos nomes, mas também, e tão importante como isso, para que os nomes já consagrados tivessem necessidade de puxar pelos galões e acordar a prosa que andava meio adormecida neles. Exemplifico isto com um nome, [e quero que fique bem claro que é uma opinião pessoal de um leitor diário do DN há mais de uma década]: José Medeiros Ferreira.

Antes de JMF escrever em blogues, a sua prosa era mais pesada, menos irónica, com poucos golpes de asa. Afirmo isto tendo presente que estou a analisar um cronista que escreve essencialmente sobre Relações Internacionais. Como se sabe, é um tema que coarcta grandemente a criatividade na escrita, uma vez que a opinião, para ser devidamente fundamentada, tem de recorrer a grandes débitos de informação. Débitos esses que acabam por tornar o texto mais denso e menos apelativo.

Acontece que é sempre possível melhorar. E escrever em blogues, em minha opinião pessoal e bastas vezes discordante do autor citado, exige síntese (que este post não teve, enfim...), exige o jogo de palavras lapidar e exige vivacidade na concepção dos posts. Ao aplicar estas técnicas nas suas crónicas, a escrita de JMF, em minha opinião, melhorou substancialmente.

E não, não se trata de antes ter sido um cronista sisudo e agora uma "máquina de debitar soundbytes". Trata-se, apenas e tão só, de escrever a mesma crónica fazendo com mais mestria aquilo que os escritores costumam dizer que é o mais difícil fazer na escrita: dar a volta ao texto.

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1 Comments:

Blogger josé medeiros ferreira said...

Li com a maior atenção e proveito o texto que me dedica´.Encontrei nele muita matéria de reflexão.
Acho no entanto diferentes os 2 registos que pratico no blogue no DN.
Já antes dos bichos eu variava o estilo no jornal por ocasião do Verão e das épocas festivas.Cheguei inclusivé a falar de blogues como articulista em Setembro de 2002, num artigo muito comentado então.
Creio que criei um estilo na blogosfera caracterizado pela síntese como assinala no seu post.Aliás quando a JAD apareceu com a ideia do blogue e discutimos o título propus TELEGRAMAS.Felizmente que ela teimou nos bichos...
Boa sorte para si e para a geração-rasca!

terça-feira, dezembro 19, 2006 5:46:00 da tarde  

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