domingo, dezembro 17, 2006

As coisas realmente boas

É engraçado como as coisas realmente interessantes, úteis e concretas são consideradas fora de moda, frívolas, demasiado abstractas ou mesmo chatas (sendo que o maior ou menor grau de "chatice" é o único critério com que muita gente avalia quase tudo). Falo da filosofia, da literatura, da investigação teórica em ciência, entre outras parvoeiras do género.

Mas acho também curioso e quase absurdo a forma beata e muito séria como alguns tentam impor a literatura, filosofia, &c., a todos os outros, em jeito de iluminação religiosa ou algo do género. Gostar ou não de literatura, perceber ou não de filosofia, entender ou não a importância da ciência é, acima de tudo, uma questão de liberdade.

Ainda mais curioso é a forma como os outros, os que acham "desinteressante" tudo isto, não percebem que perdem imenso e que as desvantagens são todas deles. Além disso, é pena não perceberem que a filosofia (certa filosofia, claro), por exemplo, foi uma das formas como se chegou às precárias liberdades que temos hoje. Leia-se Popper, por exemplo: está lá a liberdade, os inimigos da mesma, a ciência, a democracia, etc., etc. Mas, claro, quem gosta de filosofia, supostamente, não percebe nada do que é a vida.

Paradoxo dos paradoxos: eu, que gosto de filosofia, de literatura, de ciência, compreendo também, por causa disso mesmo, que não sou realmente melhor dos outros por causa disso. Simplesmente, a minha vida, sem isso, era outra coisa. Menos minha. Menos boa.
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