sábado, novembro 25, 2006

No centenário de Rómulo de Carvalho (António Gedeão)

Tudo é foi

Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
Já todo o mundo é diferente.

Já outro ar me rodeia;
Outros lábios o respiram;
Outros aléns se tingiram
De outro Sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram;
Outro vento as despenteia;
Outras ondas invadiram
Outtros recantos de areia.

Momento, tempo esgotado,
Fluidez sem transparência.
Presença, espectro de ausência,
Cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescendência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.


António Gedeão, Poemas Escolhidos
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