quinta-feira, novembro 23, 2006

Avaliação de Professores

Existe uma certeza: os professores, como todos os outros profissionais, devem ser avaliados. Porém, há uma série de equívocos em toda esta história. Partindo de um pressuposto primário - avaliar significa fazer um juízo - como pode um pai ajuizar com isenção quando constitui uma parte interessada?
Depois, o outro equívoco: avaliar com objectividade. Um exemplo simples de como esta teoria é falível: um professor passa todos os alunos com dezoito. Nas provas nacionais têm a mesma nota. Outro aprova outra turma com doze, e nas provas nacionais também tiram doze. O primeiro professor é melhor que o segundo? E se os alunos de dezoito tivessem sido sempre alunos de dezoito e os da segunda turma sempre foram alunos de dez, mas nesse ano, fruto do ensino do professor, tivessem subido a nota em dois valores?
Finalmente, quem deve avaliar os professores? Como já ficou demonstrado em cima, não penso que os pais constituam bons avaliadores. Quer por serem parte interessada, quer por muitos portugueses não terem a formação necessária para o fazer. Também não penso que o ministério seja boa solução: quanto melhor forem as notas e o aproveitamento, melhores as estatísticas da UE, OCDE, etc, sobre o ensino português. Logo, melhor propaganda para o Governo (seja ele qual for). Por outro lado, os sindicatos atribuem nota vinte em piloto automático a todos os seus associados, excepto àqueles com uma cor política diferente da sua. Uma última hipótese: os professores avaliarem-se a eles mesmos. Mas lá voltaríamos nós ao velho, mas correctíssimo, pressuposto de que ninguém é bom juiz em causa própria.
Não tenho soluções. Mesmo que as tivesse, sei que existe gente muito mais abalizada para as encontrar. Apenas sei que avaliar professores pelos pais, os mesmos pais que cada vez mais utilizam a escola como depósito dos filhos, é um dos princípios do fim da escola que ensina alunos e forma cidadãos.
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6 Comments:

Blogger Nancy Brown said...

e q tal considerarem-se os alunos? a avaliação tem sempre o problema da perversão, qto aos pais sou perfeitamente contra, concordo contigo, já em relação aos alunos, uma avaliação anónima penso que será uma boa forma de os professores saberem se as suas estratégias educativas, adoro esta expressão, estão a correr bem.
quanto aos professores avaliarem-se entre si, torço o nariz, não me parece nada boa ideia, são as mesmas perversões da avaliação pelos pais, com outros contornos.

quinta-feira, novembro 23, 2006 9:37:00 da manhã  
Blogger Jorge Simões said...

Verdadíssima. Exemplo: hoje, ao fim da tarde, terei uma reunião de uma turma de 7º ano a que dou Francês. Sei que me vão chatear porque a directora de turma já me disse que a representante dos pais (mãe de uma aluna que teve negativa no primeiro teste) já se lhe foi queixar de que eu "ando muito depressa" e que "as outras turmas vão mais atrasadas". Isto é um bocado o preso por ter cão e preso por não ter cão... Se dou a matéria de forma a cumprir o programa na íntegra, ando muito depressa. Se ando devagar, não cumpro o programa e baldo-me. E se a miúda tivesse tido positiva, também me chateavam? Antes de tudo, o centro da escola não são os alunos, como nos querem fazer querer a toda a hora, com os resultados que assim se têm obtido (de comportamento e aproveitamento ou aproveitamentos falseados) e sim o ensino e aprendizagem. Mas um grande número de pais só olha para as notinhas e não pensa nem quer pensar se os filhos estão atentos, se se esforçam, se passam os apontamentos ou os passam correctamente, se fazem os trabalhos de casa quando pedidos, se têm a noção de que aprender não é uma brincadeirinha e sim uma tarefa obviamente trabalhosa. E esquecem-se que o realmente importante para os filhos é adquirirem conhecimentos que lhes virão a ser úteis ou, pelo menos, desenvolverem capacidades como o raciocínio e a memória... E se eu fizesse como outros professores (como a delegada de Francês que já me veio dizer cuidadosamente que temos que ter cuidado e fazer brincadeiras e apresentar canções e mais não sei o quê, porque há alunos que se começam a queixar de que preferiam Espanhol - e eu que sei, porque falo com as pessoas, que os alunos de Espanhol dizem o mesmo mas em relação ao Francês!)e falseasse os resultados através de um certo facilitismo que leva a que os alunos não aprendam o que é suposto aprenderem mas eleva as notas artificialmente? Se todos obtivessem resultados excelentes apesar de se baldarem, provavelmente estaria tudo fantástico! Como é, então? Baldo-me qb e passo a ser bestial ou exijo e sou besta? Mas onde fica o papel educativo da escola se permitir aos alunos não saber estar nem aprender a trabalhar, onde fica ele em termos de resultados para o futuro? Um dia, cairia o Carmo e a Trindade porque estes meninos tinham tido anos de Francês e não percebiam nada de Francês! E assim vamos...

quinta-feira, novembro 23, 2006 12:01:00 da tarde  
Blogger cristina said...

«como pode um pai ajuizar com isenção quando constitui uma parte interessada?»

- Com informação e bom senso!!!

É certo que muitos pais desconhecem por completo a realidade escolar dos filhos, mas nem todos! É certo que muitos pais se queixam consoante o aproveitamento dos filhos, mas nem todos! Este assunto é muito dado a sensacionalismos, mas é preciso ver duas coisas: a apreciação dos pais não seria nunca critério único de avaliação dos professores e ninguém conhece - eu não conheço! - os moldes em que se desenrolaria. Um pai nunca pode avaliar a competência científica do professor, mas pode (eventualmente em grupo), por exemplo, pronunciar-se - se informado! - sobre a sua capacidade de motivação sobre os alunos. É certo que não é tudo, é certo que assim seria mais vantajoso passar as aulas de guitarra na mão a cantar canções do que a resolver equações do 2o grau. Sim, é certo, mas, apesar de não ser tudo, isso também é importante. E como a apreciação dos pais seria apenas mais um elemento, não me parece mal que permita avaliar outras competências.

Quanto a outros elementos de avaliação complementares, também não tenho soluções, mas, deixando de lado a ambição de perfeição, tendo em conta que temos urgentemente de começar por algum lado:
- um exame periódico parece-me a melhor maneira de avaliar competências ciêntíficas;
- a apreciação dos colegas, parece-me boa para avaliar o cumprimento do programa e a adequação de estratégias;
- o resultado de acções de formação, parece-me bem para avaliar o esforço pela actualização;
- a submissão do relatório pessoal a uma autoridade exterior independente parece-me importante para se ter também o ponto de vista do professor.

As notas dos alunos parece-me o critério mais duvidoso, por ser duplamente falacioso: ocultar pequenas conquistas (como refere o Carlos) e incentivar à classificação inflacionada.

quinta-feira, novembro 23, 2006 6:45:00 da tarde  
Blogger O MEU OLHAR said...

Afinal em que ficamos?
Os professores têm de ser avaliados, mas por quem?
O busilis está aí!
Aqueles que defendem a avaliação deverão apontar a entidade que o deverá fazer. Digo eu!

quinta-feira, novembro 23, 2006 8:14:00 da tarde  
Blogger Nancy Brown said...

bem no fundo a avaliação dos professores deverá possuir diversos intervenientes, pois assim o resultado final será mais aproximado da realidade!?

sexta-feira, novembro 24, 2006 8:40:00 da manhã  
Blogger Jorge Simões said...

Em todo o caso, gostaria de chamar a atenção para o facto de que médicos e magistrados, por exemplo, são avaliados pelos seus pares e nunca por isso caiu o Carmo e a Trindade.

sexta-feira, novembro 24, 2006 1:30:00 da tarde  

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