quarta-feira, outubro 25, 2006

o Equador

eu tb li o Equador.
em terras estranhas e numa situação muito especial:
convalescença de uma operação de rotina.
sempre que me vier à memória a tal intervenção cirúrgica, lembrar-me-ei do país onde estava e do livro de MST.
li o Equador em dois dias e meio, para um livro de seiscentas e tal páginas, foi um ritmo ligeiramente acelerado.
tal como tenho dias para o cinema, também tenho dias para a literatura.
e se na maior parte dos casos rejubilo bastante com a capacidade irónica de um autor (algo que o livro de MST não tem), noutros é só a capacidade de encadear a acção que me emociona e de tal forma que a minha postura se torna assaz execrável, pois o entusiasmo pela leitura ultrapassa todos os limites do bom senso, convivial (algo que o livro de MST tem em boas doses).
em todas as épocas, basta espreitar a história da literatura, existiram autores menosprezados por serem comerciais (Shakespeare sofreu dessa incapacidade em pleno séc. XX, devido a análises ideológicas de alguns críticos verdadeiramente insensatos).
os críticos, em geral, pretendem fixar a sua crítica literária em grandes obras, compreendo a sua preocupação económica, os autores menores são uma perda de tempo e de incredibilidade, verdadeiramente escusadas.
sejamos justos, há uma certa inconveniência entre a qualidade e a quantidade.
efectivamente é um desespero, para qualquer actividade profissional, vingarem aqueles que, por um simples pormenor, se tornaram mais visíveis.
porém, o problema principal dos profissionais da crítica literária é viverem num mundo afastado do comezinho.
o seu mundo é um mundo de mulheres elegantes, homens cavalheirescos, expressando-se correctamente, entre troca de dilhos verdadeiramente dignos de constarem em gramáticas inovadoras, e isto tudo com a distinção de um passo de dança.
obviamente, este tipo de salão será qualquer coisa de luxuoso e repleto de candelabros vintage.
sinceramente, para mim, os livros são como qualquer outro objecto de prazer: guardam-se os que valem a pena e dão-se (não cairei no exagero de os queimar) os que estão a encavalitar-se nas prateleiras da biblioteca.
diria que o livro de MST não é uma obra prima, mas bastante superior aos do Sr. Coelho, Sra. Esquível, e outros que tais e portanto vale a pena ser lido, principalmente, quando não estivermos virados para romances ousadíssimos como os do sr. da montanha mágica, por exemplo.
quanto à polémica do momento deixaria a todos esta análise bastante elucidativa de Sonia Belloto em Como Escrever um Livro:
"Em 1841, Edgar Allan Poe escreveu um conto policial denominado Os Crimes da Rua Morgue. A história é narrada na primeira pessoa e o narrador apresenta uma personagem chamada Auguste Dupin, dotada de uma incrível capacidade dedutiva. A partir de pormenores imperceptíveis para a maioria das pessoas, Dupin consegue esclarecer os misteriosos assassinatos na rua Morgue.
Em 1887, Sir Artur Conan Doyle escreveu a sua primeira história policial. Um Estudo em Vermelho, narrado na primeira pessoa pelo Dr. Watson, apresenta uma personagem chamada Sherlock Holmes, dotada da mesma capacidade dedutiva de Auguste Dupin, criado por Edgar Allan Poe.
Em 1920, Agatha Christie publica a primeira aventura da sua personagem Hercule Poirot, que desfruta da mesma capacidade dedutiva das personagens anteriores para desvendar crimes misteriosos." p. 51-52
mas se os solidários da polémica argumentaram: bem uma coisa é uma ideia semelhante, outra são partes de texto quase idênticas, ainda poderão ler no mesmo livro extractos de texto de O Nome da Rosa, Umberto Eco, idênticos aos de Zadig de Voltaire, entre outros.
isto tudo para chegarmos a que tipo de conclusão?
as ideias para escrever um livro, infelizmente para alguns, podem vir de várias fontes e por muito que os puristas pretendam fazer crer o contrário, a inspiração no texto de um outro escritor não é ilícita.
quanto muito poderemos murmurar, entre uma dança e outra do salão, que falta de criatividade e imaginação, um horror! - sendo de todo conveniente um ar assaz circunspecto do cavalheiro e um risinho intelectualmente irritante da dama.
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2 Comments:

Blogger Unknown said...

"quanto muito poderemos murmurar, entre uma dança e outra do salão, que falta de criatividade e imaginação, um horror! - sendo de todo conveniente um ar assaz circunspecto do cavalheiro e um risinho intelectualmente irritante da dama."

Isto faz me lembrar é a minha avó que só tirou a quarta classe. Depois de uma importante cerimónia pública onde houve alguma acrimónia, ainda que cordata, perguntou: Então mas eles não são todos doutores?!

quarta-feira, outubro 25, 2006 1:40:00 da tarde  
Blogger Pitucha said...

Nancy
A inveja e a mania da superioridade fazem os homens muito "pequeninos", if you know what I mean!
Beijos

quarta-feira, outubro 25, 2006 1:50:00 da tarde  

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